UM TROVADOR DA VIDA REAL


 Versos do fluminense que chegou a Maringá em 1955 nascem de cenas cotidianas e vencem concursos nacionais transformando-o num dos poetas mais premiados do Brasil

Texto e foto: Airton Donizete


Conhecia-o pelo nome que assinava suas trovas: A. A. de Assis. Tomava café numa padaria. O amigo da mesa me apresentou àquele senhor que havia chegado. “Este é o poeta A. A. de Assis”, disse. Ele me presenteou com dois livros de coletâneas, entre as quais havia uma trova e uma crônica dele.
Marcamos um bate-papo na casa dele para alguns dias depois. Professor, jornalista, poeta, cronista, editorialista. Não faltam adjetivos para Antonio Augusto de Assis, que nasceu em 7 de abril de 1933.
Ele já contou sua vida na autobiografia "Vida, verso e prosa", lançada em 2010. Mas um personagem do naipe de Assis é inesgotável. Sempre há algo a dizer dele. Ou que vale a pena lembrar.
Natural da montanhosa São Fidélis, vizinha de Campos (RJ). Passou a infância numa pequena fazenda do pai nos arredores da cidade. Era um menino levado. Gostava de jogar pelada, tomar banho de rio e caçar passarinho.  

Na biblioteca do pai

Começou a aprender a ler e a escrever com as irmãs. Com 11 anos começou a ir à escola. O gosto pela literatura o acompanha desde menino. Aprendeu muito com o professor Expedito, que lecionava latim, português, francês e inglês. “Era curioso e sempre me interessava por tudo que era relacionado aos livros”, conta.
O pai Pedro Gomes de Assis era leitor dos jornais Diário Carioca e Correio da Manhã. Na biblioteca dele havia as revistas Seleções, Careta e O Cruzeiro. “Ali comecei a tomar gosto pela leitura das notícias e reportagens”, afirma.
Com 20 anos foi trabalhar numa loja da GM, em Bauru. Um irmão dele e um cunhado tinham um sítio em Astorga e instalaram uma loja de peças de carro em Maringá. Em 1955, convidaram-no para trabalhar na cidade. “De pronto aceitei, mesmo sem saber que lugar era aquele”, comenta.   
Mas o destino de Assis era mesmo o jornalismo. Começou a fazer programas na Rádio Cultura. Trabalhou nos jornais A Hora, O Jornal de Maringá, A Tribuna e na primeira revista da cidade: Maringá Ilustrada, que passou se chamar Norte do Paraná e, em seguida, NP – Novo Paraná e Folha do Norte.

Prisão
Em 1969, um amigo o visitou no jornal, e Assis lhe deu um cartão. Um ano antes, o governo militar decretara o AI-5. Dias depois, um carro do Exército parou em frente ao jornal. Os militares o levaram ao 30º Batalhão de Infantaria Mecanizado (30º BIM), em Apucarana. De lá o conduziram a Curitiba.
Maringá ficou em polvorosa. Ninguém sabia por que Assis fora preso. O Exército não dava informação. Em Curitiba, ouviram-no e o liberaram. “Foi muito rápido, mas fiquei apavorado, pois ninguém me informava o que estava acontecendo”, diz. A prisão se deu porque o amigo fora preso e com ele estava o cartão que recebera de Assis em Maringá.
Se nas décadas de 1960 e 1970 os militares apavoravam; nos anos 1950, Assis diz que viveu na Maringá do faroeste. “Quem já assistiu à ‘Era uma vez no Oeste’ pode fazer uma ideia do que era nossa cidade”, afirma, lembrando-se dos ônibus que atolavam na lama que se formava na Avenida Brasil. “A gente ia lá ajudar a empurrar”.
Duas filhas, cinco netos, 15 irmãos, Assis é casado com Lucilla Maria Simas de Assis. É um dos fundadores da Academia de Letras de Maringá, da qual é membro.

Troféus

 No apartamento de Assis, no centro de Maringá, tem um espaço para dezenas de troféus, que conquista Brasil afora nos concursos de trovas. Ele diz que não é conhecido em todo o Brasil, mas em cada Estado tem alguém que o conhece.
Quando o entrevistei, ele acabara de chegar de Natal (RN), onde participara de uma homenagem da União Brasileira dos Trovadores (UBT). Mas sua poesia começou por brincadeira. Um dia cantou os versos: “O amor, para ser gostoso, nunca deve ser pamonha; deve ser escandaloso, cego, surdo e sem vergonha”.
A brincadeira virou hábito. As trovas de Assis são uma espécie de flash do cotidiano. “Se estou na rua e vejo uma cena, memorizo e, mais tarde, transformo em versos”, conta. “Às vezes, estou munido de papel e caneta anoto”.
As primeiras trovas escritas ele publicou em 1959 no livro “Robson”, pseudônimo que ele usava para assinar seus escritos no jornal. A impressão foi na gráfica de A Tribuna de Maringá. Primeiro livro impresso na cidade. Daí em diante, dele, foram 14 publicações culminando com “Vida, Verso e Prosa”, autobiografia lançada em 2010.
Em 1970, em homenagem ao Festival Brasileiro de Trovas realizado em Maringá houve uma missa em trova na Catedral Nossa Senhora da Glória celebrada pelo monsenhor Sidney Luiz Zanettini. “Pedi inspiração a São Francisco, patrono dos trovadores e escrevi o texto”, recorda.      
Formado em Letras, professor aposentado do departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Também lecionou no Colégio Santa Cruz de Maringá. Assis se transformou num navegador contumaz na rede. “A internet foi a melhor coisa que inventaram”, diz. “Divulgo minhas trovas, converso com colegas escritores e sem gastar nada”.    

 Trovas de A. A. Assis


A palavra acalma e instiga;
a palavra adoça e inflama.
Com ela é que a gente briga;
com ela é que a gente ama!


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A história, através dos anos,
ensina a grande lição:
o destino dos tiranos
Será sempre a solidão!

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Quem dera, um dia, as fronteiras
fossem elo nos unindo,
e houvesse, em vez de barreiras,
somente a placa: - Bem-vindo!

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Na varanda, um quadro lindo:
a jovem mãe e a criança:
Era a ternura sorrindo,
amamentando a esperança!
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      Quem ama não mata a mata;
      quem ama, planta, recria.
      Quem ama protege e acata
      o verde, a vida, a alegria!

FOTO

Assis ao lado de parte dos seus troféus conquistados em concursos de trovas pelo Brasil








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