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Mostrando postagens de 2024

Pitoco repousa à sombra de um pé de incenso

  (Texto e foto: Donizete Oliveira) O ano era 2010. Eu vi um cachorro amarelo que dormia enrolado num monte de areia, na calçada da rua da casa da minha irmã. No outro dia, ele se aprochegou do portão dela, bebeu água e comeu ração num pote. Ela o deixa ali para cachorros que passam por lá. Mas o Pitoco, assim o nomeamos por causa do toco de cauda, ficou. Dormia na frente da grade. Inquieto e individualista, não convivia com outros cães. Qualquer aproximação era motivo de briga. Arrumou uma treta com um cão do vizinho. Certa vez se atracaram na rua. Minha irmã tentou separar, e um deles a mordeu no braço.             Pitoco tinha outro problema. Corria atrás de motoqueiros. Eu via o dia em que alguém o mataria. Antes que o pior ocorresse o adotamos. Veio para o quintal. Tornou-se conhecido no bairro. Eu o levava para caminhar; as pessoas o chamavam pelo nome. Após um tempo, eu ia correr oito, dez quilômetros; ele junto. Uma...

João do Rio no churrasco de Rio Bom

       Sentei. Junto dos amigos Zé Lino, Aranha e Benito, que não via fazia meses. Prosa vai, prosa vem, espeto fincado num pedaço de madeira, churrasco que chegava às mesas. Já fui à Festa do Rio Bom algumas vezes, mas desta vez me pus a assuntar. E percebi que festa em uma cidadezinha com pouco mais de três mil habitantes pode ser chique. Quase um desfile, de moda mesmo, daqueles concorridos. Mulheres de vestidos longos, botas até o joelho, joias no pescoço, na mão, maquiagem nos trinques. Homens de chapéu caubói, camisa Lacoste, calça jeans e botas de bico fino. Mas o que mais me impressionou foram as bolsas. Comecei a contar as marcas. Dei conta, não. Muita grife. Barracas apinhadas de gente. Atendentes se virando pra aprontar mais uma mesa. Hora do almoço. Eles agarravam um pedaço redondo de madeira. Colocavam sobre um cavalete. Pronto.   Mais gente acomodada. E dão lhe bolsas cujos zíperes, fivelas e logotipos ofuscavam meus olhos. Louis Vuitton, Gucci e...

UMA MULHER MARCADA PARA RESISTIR...

  Símbolo da luta pela terra no Brasil, Elizabeth Teixeira, que completou 99 anos, continua a luta do marido, assassinado em 1962, a mando de latifundiários, que deu origem ao documentário de Eduardo Coutinho, “Cabra marcado para morrer” Texto: Donizete Oliveira Foto: Memorial das Ligas e Lutas Camponesas 1, 2, 3... três tiros ecoaram nas margens da BR-230, que liga João Pessoa a Sapé, município de 52 mil habitantes, a 57 quilômetros da capital paraibana. Era 2 de abril de 1962. A vítima assassinada a tiros de fuzil pelas costas era o agricultor João Pedro Teixeira. Marido de Elizabeth Altino Teixeira, ele travara uma luta ferrenha com latifundiários da região. Rechaçava os maus tratos a trabalhadores rurais e exigia a reforma agrária. Reivindicação antiga que põe o Brasil entre os raros países do mundo que não a fizeram. João Pedro sabia que podia morrer, mas foi às últimas consequências contra os algozes daqueles que lavravam a terra e dela tiravam o sustento. A altiva ...