ANTIGOS CARNAVAIS
Tanto riso,
Oh! quanta alegria,
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão
(“Máscara
negra”, Zé Kéti e Hildebrando Matos – 1967)
Era uma das marchinhas mais ouvidas e dançadas em clubes, ruas e
avenidas de Maringá, Sarandi, Marialva, Mandaguari, Jandaia do Sul, Apucarana, Nova
Esperança e Astorga
Texto: Airton Donizete
Fotos: Arquivo pessoal
Não
é saudosismo, mas o carnaval não é mais o mesmo. Até por que não existem mais
marchinhas como “Máscara Negra”, do saudoso Zé Kétti. Entre tantas outras,
claro. É preciso recorrer ao passado para mostrar que houve bons carnavais em
Maringá e região. Em Maringá, até o fim dos anos 80, a folia tinha Rei
Momo.
A escolha de quem ocuparia o trono de Rei Momo, em Maringá, não era
fácil. Elói Victor de Mello, então presidente da Comissão Organizadora do Carnaval
no começo dos anos 80, convocou a diretoria para uma reunião, que definiu: o Rei Momo seria o assessor político e escritor Osvaldo Fernandes Reis.
Com
aval do secretário Otávio Salvadori e do presidente Léo de Paula e Silva, ambos
do Clube Olímpico, Mello comunicou a decisão a Reis, que ficou de responder no
dia seguinte. Ele foi chamado para uma reunião na Prefeitura. Ao chegar lá, a
Imprensa o aguardava para uma coletiva. “Não tive chance de decidir nada”,
afirmou ele numa entrevista a este Blog, pouco dias antes de morrer em 2017. “A escolha já estava feita”.
Antes dele havia o popular Tião Carabina, que marcou época no reinado de momo em Maringá. Luiz Carlos Pavesi completa a lista daqueles que recebiam a chave da cidade. Não se pode esquecer de Maria das Dores, a Donzinha, que, nos anos 50, brilhou como rainha do Carnaval.
As escolas de samba também marcaram época em Maringá. Imperadores do Samba, Asa Negra, Unidos da Vila Operária e Caprichosos de São José desfilavam nas avenidas centrais da cidade. Milhares de pessoas assistiam aos desfiles. Um corpo de jurados avaliava determinados quesitos das escolas e apontava as campeãs.
Antes dele havia o popular Tião Carabina, que marcou época no reinado de momo em Maringá. Luiz Carlos Pavesi completa a lista daqueles que recebiam a chave da cidade. Não se pode esquecer de Maria das Dores, a Donzinha, que, nos anos 50, brilhou como rainha do Carnaval.
As escolas de samba também marcaram época em Maringá. Imperadores do Samba, Asa Negra, Unidos da Vila Operária e Caprichosos de São José desfilavam nas avenidas centrais da cidade. Milhares de pessoas assistiam aos desfiles. Um corpo de jurados avaliava determinados quesitos das escolas e apontava as campeãs.
Reis reinou
Definido
pelos jornais como simpático e acessível, Reis foi Rei Momo entre 1981 e 1986.
Com 140 quilos, ele tornou-se uma figura de prestígio em Maringá. Durante o
Carnaval, reinava no Olímpico, mas transitava pelo Maringá Clube, Country,
Acema, Teuto-Brasileiro e Bailão Popular do Atlântico.
Em
todos os clubes, Reis era recebido com euforia e respeito. “Me achava realmente
um rei”, recordou ele na entrevista a este Blog. “Havia mesa preparada pra mim e
muita gente aguardando para fotos e cumprimentos”. Apesar de pertencer ao Clube
Olímpico, ele reinava para a cidade, inclusive de posse das chaves que recebera
do então prefeito João Paulino Vieira Filho.
Natural
de Bom Sucesso (Vale do Ivaí), Reis chegou a Maringá em 1953. Assessorou vários políticos, autodidata e
autor de dez livros. Após passar por uma cirurgia de redução de estômago parou
de engordar. Os problemas de saúde, no entanto, se agravaram com o tempo, e ele morreu.
Ele dizia ter boas recordações do
carnaval maringaense. “Era um tempo bom, que elevava o nome da cidade para todo
o Paraná e até pelo Brasil”, afirmou. “Infelizmente, tudo acabou”. Para ele, a
culpa era da televisão, que levou a folia para dentro de casa. “A gente ia ao
carnaval para festejar, mas as pessoas curtem tudo na telinha, sem sair da
poltrona”.
A escola de Sarandi
No
início dos anos 80, um grupo de estudantes do Colégio Estadual Olavo Bilac, de
Sarandi, se reunia para bater papo. Entre uma conversa e outra, cantarolavam letras
de sambas. Bolsas eram improvisadas como pandeiros. Até que Maurílio Barbosa sugeriu que fundassem um bloco de carnaval.
Os
amigos toparam e escolheram o nome do bloco: “Saranda-auê”. O número de
participantes cresceu, e em 1986 transformou-se em escola de samba. Nascia a “Saranda-auê”,
presidida por Maurílio Barbosa. Faltavam instrumentos. Eles procuraram o então
prefeito de Sarandi, Hélio Gremes, que lhes cedeu espaço para instalação de uma
barraca nas festas de aniversários da cidade.
Com
o dinheiro arrecadado compraram parte dos instrumentos. Mais tarde o então
deputado Antônio Bárbara e o prefeito da época, Júlio Bifon, doaram à escola os
instrumentos que faltavam. Assim, a “Saranda-auê” transformou-se numa das
maiores escolas de samba da região.
A
escola realizou memoráveis desfiles em Sarandi. Segundo Barbosa, em 1989, a “Saranda-auê” foi
campeã do carnaval de rua de Maringá, mas a comissão organizadora não teria reconhecido o resultado. Em 1992, a
“Saranda-auê” voltou a desfilar em Maringá e sagrou-se campeã novamente. Desta
vez, o título foi validado.
Jandaia, a referência
Não
se pode falar do carnaval na região sem citar Jandaia do Sul. Unidos da Vila
Rica, Unidos da Vila Santo Antônio e Afujan, patrocinada pela empresa Jamel, se
encarregavam do desfile de rua na cidade. Milhares de pessoas iam à Avenida
Getúlio Vargas para ver as escolas. A Unidos da Barra Funda de Apucarana e
integrantes do Clube Recreativo de Mandaguari participavam dos desfiles, nos anos 80 e 90.
A
coordenação era do carnavalesco Celso Germano de Oliveira, o Pelé, que morreu
em 2013. As escolas acabaram, mas ele continuou a promover bailes carnavalescos todos os anos no Salão da Ampac em Jandaia do Sul.
Para
ele, o carnaval de rua sucumbira-se pela falta de dinheiro e gente para
organizar a festa. “Naquela época, eu era autônomo e tinha tempo de correr
atrás de tudo”, disse à Revista Tradição,
em 2011. “Hoje (na época), sou empregado e não tenho a mesma disponibilidade”.
Pelé
acrescentara que a falta de dinheiro era o maior entrave. “Não se põe uma
escola com 400 componentes na avenida, como era a Unidos da Vila Santo Antônio,
com menos de R$ 200 mil (em 2011)”, calculara. “Como não se tem de onde tirar
esse dinheiro, não tem desfile”.
Desfile ousado em Apucarana
Em
Apucarana, havia quatro escolas de samba: Unidos da Barra Funda, Salário
Mínimo, Águias do Alvorecer e Garotos do Paraíso. Durante o carnaval, pelo
menos duas vezes, saíam na avenida principal da cidade e atraíam milhares de
pessoas.
A
Unidos da Barra Funda, fundada em 1967, foi campeã do carnaval de rua de
Apucarana por três anos seguidos: 1985, 1986 e 1987. Presidida pelo saudoso
Paulo Henrique Venâncio, o Bavária, encantava a multidão com criativos sambas
enredos e fantasias.
A
alta inflação dos anos 80 serviu de inspiração. “Vou sonhar/vou sonhar bem
alto/ esquecendo nossa rica inflação", dizia o samba enredo da Salário Mínimo em
1988. Fundada em 1979, por muitos anos foi comandada pelo advogado Dirceu Borges
Filho, o Dirceuzinho.
Fundada
em 1986, no ano seguinte, a Águias do Alvorecer ousou ao desfilar, na avenida, com duas mulheres de seios nus. O top-less causou
frisson, mas ajudou a divulgar a escola. Etelvino
Francisco, o Chico Preto, comandava a Garotos do Paraíso, que fez sucesso em
1987, com o carro alegórico Princesa Isabel. Ele sempre viajava ao Rio de Janeiro
em busca de sambistas para reforçar temporariamente o elenco da escola.
A folia nos clubes
Se
em Jandaia e Apucarana, o carnaval brilhava na rua, em Mandaguari, era nos
clubes. Nos anos 50, a
folia era no Clube do Aeroporto. Nos anos 60, os foliões se reuniam no Salão do
Boliche, ao lado da Igreja Nossa Senhora Aparecida. Nos
anos seguintes, os blocos fizeram sucesso no Clube Recreativo. Eles se reuniam
na Avenida Amazonas, de onde partiam para o clube ao som de tradicionais
marchinhas.
O
mesmo ocorria no Clube dos 30 em
Marialva. A reunião de blocos atraía muita gente. Não era
diferente no Clube Campestre de Nova Esperança, onde havia a tradicional
“Bandinha do Clube”. Formada por antigos integrantes, todo carnaval eles se
reuniam para a famosa batucada.
Blocos animados em Astorga
Outro
carnaval que deixou marca na região era o do Astorga Tênis Clube (ATC). Nos anos 60 foi um dos mais badalados. A coordenação era da professora
Florinda Gonçalves Lourenço. Dezenas de blocos animavam as noites de folia.
Durante o ano, eles se cotizavam e compravam as roupas para confeccionar as
fantasias. Dona
Florinda, como era conhecida, perdera a conta dos prêmios que ganhou nos
carnavais. Quase todo ano, o bloco liderado por ela, conquistava o primeiro
lugar. Ao lado do marido, Antonio Lourenço e dos filhos, ela não dava pausa nos
quatro dias de folia com duas matinês.
Segundo
Florinda, que concedeu entrevista à Revista
Tradição, em 2009, as drogas e a violência fizeram o carnaval perder a
graça. “No meu tempo, o lança-perfume era tolerado porque não era usado como droga”,
disse. “Bebida alcoólica também tinha, mas os que exageravam iam curtir
o álcool lá fora do clube”.
Florinda
contou que os foliões punham a imaginação para funcionar. Uma das fantasias que
ajudou a criar e fez sucesso foi inspirada nas cores do cigarro Minister. “De
tanta badalação que deu até um canal de TV veio filmar nosso baile”, ressaltou.
FOTOS
Os memoráveis desfiles de carnaval de Jandaia do Sul
Saudoso Osvaldo Reis, Rei Momo em Maringá
Dona Florinda e o marido, Antônio, num dos
muitos carnavais de Astorga
Mulheres com seios à mostra no desfile, em Apucarana
Eu amei a sua narrativa porque de 1952 e sou Apucaranesse nato parabéns povo do Barreiro
ResponderExcluir