terça-feira, 17 de novembro de 2020

O FILÓSOFO DAS AMENIDADES

 

Personagem conhecido nos bastidores políticos maringaense, Antero Rocha começou a militância no movimento estudantil passou pelo antigo MDB com atuações na imprensa e na realização de eventos artísticos em Maringá

(Texto e foto: Donizete Oliveira)

Dizem que ele estava sentado à mesa de um bar e um amigo espalhou: ali está o embaixador do Senegal! Trataram-no com todas as honras, servindo bebidas à vontade às mesas que ele ordenasse. Mas desfeita a farsa cada um teve de pagar o que consumiu a mando do suposto embaixador. A história corre. Cada um conta de um jeito. O próprio não confirmava, disfarçava com um sorriso no canto da boca.

Antero Silva da Rocha viveu a história política de Maringá desde 1970. Nascido num lugarejo chamado Brejinho das Ametistas, distrito de Caetité (BA), numa família de 12 irmãos. Em busca de dias melhores, se mudaram para Bandeirantes, ele tinha dois anos. O pai, Sebastião, trabalhava no Instituto Brasileiro do Café (IBC), e foi transferido para Cianorte.

Talvez fosse melhor perguntar em que Rocha não trabalhou. O habitual “fiz de tudo um pouco” lhe caía como luva. Office-boy, lavador de carro, auxiliar de feirante, vendedor de flores eram alguns dos seus afazeres.  Em 1970, ele se mudou para Maringá, onde vivia com familiares. Entre eles, a mãe, Maria Ribeiro da Silva, com 90 anos, mas firme e forte.

A militância no movimento estudantil lhe abriu as portas para a política. Rocha ingressou no antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), onde estavam as principais lideranças que se opunham à ditadura militar. Mas ele ressalva: “Eu não levo muito em conta essa coisa de partido, sempre sou oposição às coisas que considero erradas”. “Até hoje sou assim”, ressaltou em entrevista à Revista Tradição.

Ele se lembrava com orgulho da eleição parlamentar de 1974, quando o MDB fez maioria no Parlamento, assustando o governo federal e seu partido, a Arena. Um dos eleitos na época foi Walber Guimarães, que Rocha assessorou por 10 anos. Também trabalhou para o então deputado Luís Gabriel Sampaio. “Era uma época boa em que o Brasil vivia uma ascensão política, com novos nomes”, disse, citando Álvaro Dias, José Richa e Ulysses Guimarães, que comandou a abertura política com a eleição e morte de Tancredo Neves, em 1985. No lugar dele assumiu José Sarney, que governou até 1990.

Em Maringá, Rocha candidatou-se a vereador por duas vezes, mas não obteve êxito. “Saí pra ajudar o partido”, justificava, se referindo ao MDB. Mas o negócio dele era mesmo os bastidores. Nos anos 70 e 80, chegou a participar de seis a oito comícios por dia, apoiando seus candidatos. “Às vezes, ficava até 40 dias fora de casa correndo o Paraná”, contou. No entanto, sua atuação foi além da política, chegando à mídia e ao entretenimento.

Trouxe vários shows artísticos e peças de teatro para exibição em Maringá. Uma com Zilda Mayo, na ditadura militar, deu o que falar e chegou a ser proibida. Durante a apresentação, os atores ficavam nus no palco. Após muita discussão acabou liberada e apresentada no antigo Cine Horizonte. Também auxiliou Morimassa Miyazato, o More, na realização da Primeira Mostra de Cinema de Maringá, em 1979.

Na imprensa, Rocha atuou em jornais, revistas e até na antiga TV Tibagi. Sócio da “Aqui, revista”, lançou “Mulher atual”, que trazia beldades na capa. Uma delas estampou Deise Nunes, Miss Brasil, em 1986, e Kiki Pinheiro, Garota de Ipanema, no mesmo ano. Ambas estiveram em Maringá num desfile na antiga boate Kalahari.  Ele assinava a coluna “Grito de alerta”, com críticas ácidas a políticos. Diz que parou porque o ameaçaram até de morte.

Divorciado, sem filhos, ele disse que a corrupção, que tanto causa frisson, é uma prática antiga. “O povo precisa eleger melhor seus representantes, deixando de escolher Barrabás”, afirmou. Sobre Maringá, entende que todos os prefeitos de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento da cidade. “Eu amo Maringá e a vejo com boas perspectivas, no caminho certo”, afirma Rocha, que apesar de diabético, dizia levar uma vida normal. “É o mal do século, precisamos saber conviver com ela”.

Assim era Antero Rocha, um filósofo das amenidades! Que não desistiu da militância política. Ele morreu hoje (17 de novembro de 2020), aos 69 anos, de infarto.


Antero Rocha posa para foto no centro de Maringá

Em 1981, estilo black power


terça-feira, 28 de abril de 2020

UM CASO DE ABDUÇÃO EM MARINGÁ


Há 40 anos óvni teria pousado em terreno no Jardim Alvorada, um dos bairros mais conhecidos da cidade, e capturado o eletricista Jocelino Mattos, que viu sua vida se transformar após o fenômeno, que até hoje atrai mídia, ufólogos e curiosos
(Texto e fotos Donizete Oliveira)
Em 13 de abril de 1979 (Sexta-feira Santa), Jocelino de Mattos, então com 20 anos, e seu irmão, Roberto Carlos de Mattos, 13, voltavam da casa de uma irmã por volta das 23h30. De repente, na Rua Roberto Simonsen, nas proximidades da Escola Municipal Ariovaldo Moreno, no Jardim Alvorada, avistaram uma estrela.
Brilhante com uma espécie de cauda. Não deram atenção, mas o objeto começou a se deslocar rapidamente no céu. Roberto Carlos cismou que havia algo estranho com aquela estrela. Mas o irmão o encorajou. “Não é nada, vamos embora”, disse. “É uma estrela comum, talvez com um pouco mais de brilho”.
Na época, havia muito mato e plantios de soja no Jardim Alvorada. Eles estavam a cerca de 500 metros de um abacateiro numa trilha no meio de uma terra preparada para o plantio de cereais. A estrela desceu e pousou no solo a alguns metros da árvore.
Ouviram um ruído estranho e, de repente, começaram a ser arrastados em direção àquela luz. “Passamos por uma valeta de uns dois metros de profundidade por três de largura que havia no local, sem ver e sentir nada”, conta Jocelino, que hoje vive no Conjunto Habitacional Requião 2, em Maringá, bairro próximo do Alvorada. “Só notei que a gente chegou debaixo do abacateiro e daí em diante não vimos mais nada, desmaiamos”.
Em entrevista ao jornal O Diário do Norte do Paraná, que noticiou o caso em 17 de abril de 1979, Jocelino disse que eles queriam andar em sentido contrário ao objeto, mas uma força estranha os atraía. “Sentimos falta de ar, nosso coração disparou, e na nossa cabeça havia um chiado infernal”, declarou. “Quando chegamos perto da estrela (nave) caímos e começamos a ouvir uma fala estranha que parecia inglês, francês, sei lá o que era aquilo... a gente não entendia nada”.
Apenas Jocelino teria sido levado ao interior do objeto, seu irmão teria ficado desacordado no solo. Ele se recorda apenas de uma frase que lhe fora transmitida telepaticamente: “Nossa missão não está terminada”, teria afirmado um dos seres, cuja aparência, Jocelino diz não se diferenciar de humanos. Tinham costeletas, eram brancos, usavam botas pretas e vestuário prata.  
Segundo a mãe deles, Maria Rosa Mattos, que morreu em 2017, após o episódio, de madrugada, ao chegarem à casa da família, a cerca de 800 metros do local, pediram para não lhes tocar que estavam dando choque elétrico.
Uma irmã duvidou, passou a mão neles e sentiu um choque. Ela contou ao jornal O Diário que a estrela voltara a brilhar novamente e lá do horizonte emitiu um feixe de luz atingindo Jocelino e Roberto Carlos, que caíram duros na porta da casa da família.
Os vizinhos ajudaram carregá-los para dentro de casa. “Passaram cânfora e álcool no nosso corpo”, diz Jocelino. Os irmãos, que ficaram das 23h30 de 13 de abril às 4h30 da madrugada do outro dia, quando chegaram à casa da família estavam exaustos, quase sem força, e com a roupa e o corpo sujos.
Por volta das 7 horas da manhã começaram a chegar carros de reportagem à casa da família Mattos. Com medo, eles procuraram a polícia e registraram queixa. Soldados do 4º Batalhão de Maringá averiguaram o terreno ao redor do abacateiro, mas nada encontraram. “A repercussão e as constantes brincadeiras maldosas provindas de algumas pessoas me chateavam muito”, afirma Jocelino. 
Para evitar curiosos e imprensa que o procuravam constantemente, ele permaneceu por três anos trabalhando em outras cidades. “Não aguentava mais falar sobre o assunto”, diz. Após o caso, a vida dele se transformou. Passou a fazer experiências com tratamentos naturais e a produzir remédios por meio de elementos químicos e plantas medicinais, os quais ele doa a pessoas com problemas de saúde que o procuram.

ABDUZIDO DESCREVE EXPERIÊNCIA SEXUAL


O médico Osvado Alves, de Mandaguari, que morreu em 2017, e se dedicava ao tratamento natural e à hipnose, pesquisou o caso. Em 1981, ele submeteu Jocelino e sua mãe, Maria Rosa Mattos, a uma sessão de hipnose. Sob as indagações do médico, eles descreveram o que se passou naquele dia. A seguir, um trecho do relato de Jocelino.

Osvaldo Alves - Em que lugar da nave você está?
Jocelino - Estou em algo parecido com uma cadeira de dentista, muito moderna, sofisticada e mecanizada. A temperatura no ambiente é normal. Tem um aparelho na minha cabeça.
OA - Como os equipamentos são colocados na sua cabeça?
Jocelino - É parecido com um capacete, Sinceramente, não vejo muito bem. Sei que estou consciente o tempo todo, mas vejo somente que o capacete é móvel.
OA - Você conversa com quem na nave?
Jocelino - Converso somente com a mulher. Porém, outros seres falavam comigo antes de ela chegar. Ela entrou por uma porta e sentou ao meu lado. Começa a me fazer... começa a me acariciar amavelmente... Passa a mão pelo meu rosto, cabelo, peito, por todo meu corpo.
OA - Você fica excitado?
Jocelino - Sim. Agora ela abre uma parte da roupa, uma espécie de zíper. Não posso ver nada direito... estou em cima dela. Fazemos sexo.
OA - Que tipo de sensação ela demonstra?
Jocelino - Ela não demonstra nada, nenhuma sensação. Tem um prazer gelado... Diz poucas palavras, apenas que é uma mulher viajante, mas não especifica que tipo de pessoa é.
OA - Como se comunicam?
Jocelino - Conversamos por pensamento. Ela não precisa mexer os lábios para conversar.
OA - Como é essa mulher?
Jocelino - Ela usa um macacão preto. Seus cabelos são longos, negros e caem sobre os ombros. Ela não permite que eu veja seu corpo, permanece vestida o tempo todo. É uma moça alta, de mais ou menos 1,75 metros de altura (mais alta que eu), seus olhos são negros, tem sobrancelhas e sua pele é morena, mais escura que a dos homens que estão na nave.
OA - Tem outras características?
Jocelino - O nariz e os olhos são iguais aos nossos, tem lábios médios e não vejo se há dentes. Tem orelhas comuns. É uma moça muito bonita em relação às terráqueas. Não usa nenhuma joia, sua roupa é fechada até o pescoço, não consegui saber se tinha seios ou não. Ela não permite que eu veja ou toque.
OA - O que vocês conversaram?
Jocelino - Ela me diz que talvez a semente cresça. Nós conversamos sobre a Terra, sobre a maneira neurótica que as pessoas vivem. Ela diz que a vida aqui é cheia de conflitos, guerras e fome, que ninguém se preocupa com os efeitos de tudo isso. Diz também que ela como todos os outros da nave são amigos, que vieram numa missão para nos julgar, ou algo parecido... Agora ela se retirou pela mesma porta que entrou.
OA - Fale mais sobre essa missão. Eles vieram para nos julgar?
Jocelino - Eles teriam que observar nosso comportamento, ver a nossa ética e esse foi um dos motivos pelo qual me raptaram. Eles dizem vir de um lugar muito longe, entre as estrelas.
OA - Como você sai da nave?
Jocelino - Flutuando, levam-me até o lugar onde o meu irmão está deitado. A nave está a uma distância de mais ou menos 800 metros da árvore, a cinco metros do solo. Vou junto de meu irmão e não vejo mais os ocupantes da nave.
OA - o que faz ao encontrar seu irmão?
Jocelino - Tento ir para casa. Estamos muito desgastados, precisamos nos apoiar para levantar. Eu me sinto muito mal. Lembro que no caminho para casa, vi três luzes passando como um flash no céu.

  UFÓLOGO DESTACA IMPORTÂNCIA DO CASO

O professor de yoga e meditação, Paulo Cesar de Oliveira, 55, pesquisa ufologia há 30 anos. Em 2001, lançou o livro “Naves Cósmicas – portal de luzes”, que aborda o assunto. Para ele, o caso que envolve Jocelino é um dos mais importantes da ufologia porque revela um contato “de nível profundo”.  
Avalie o “caso Jocelino”?
Utilizando parâmetros da ufologia científica, na classificação criada pelo astrofísico Josef Allen Hynek, seria um caso de “contato imediato de sétimo grau”, o mais alto da escala, em que são criados seres híbridos entre homens e extraterrestres, por métodos artificiais e “naturais”.
Portanto, é um dos mais importantes casos da ufologia mundial, pois além do contato ser de nível profundo, teve implicações que alteraram a vida de algumas pessoas, como o ufólogo Ademar José Gevaerd, que começou em Maringá, pesquisou esse caso e se tornou mundialmente famoso. Hoje, é editor de uma das mais respeitadas publicações sobre ufologia do mundo, a revista UFO.   
Há algo especial sobre constantes aparecimentos de Óvnis em Maringá?
        
        Poderíamos dizer que sim, uma vez que já investigamos vários casos de contato e avistamentos de óvnis na cidade. Alguns dizem que Maringá é rota de óvnis e abriga um portal dimensional.  Seria uma passagem para a quarta dimensão, cuja entrada ficaria em Maringá.




Jocelino retorna próximo ao local onde teria sido abduzido, no Jardim Alvorada, e aponta para o céu, lembrando o caso

Maria Mattos, mãe de Jocelino, na época, em O Diário, que com outros meios de comunicação deu ampla cobertura ao caso 

A casa de Jocelino virou uma espécie de laboratório, rotina que ele segue após o episódio, fabricando medicamentos naturais

Para o ufólogo Paulo César de Oliveira, o "caso Jocelino" está entre os mais importantes da ufologia mundial

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Ditadura censurou informações sobre epidemia de meningite que apavorou o Brasil nos anos 70


A desinformação ajudou a espalhar a doença, assustando o Brasil, que, em 1974, não dispunha de atendimento especializado para diagnosticar e tratar os casos nem de vacina para imunizar ao menos os moradores de São Paulo, onde houve mais vítimas
(Donizete Oliveira, texto e pesquisa)
Eu tinha oito anos. O ano era 1974. Morava na roça, em Califórnia, norte do Paraná. Numa localidade chamada Laranjal. Havia lavoura de café, feijão, arroz e milho. O pasto era grande. Meu pai tinha algumas vacas de leite. Pelo menos duas vezes por semana, eu levantava cedo e pegava uma caneca de alumínio com um pouco de cachaça no fundo e corria até o curral. Com certa rapidez, meu pai puxava a teta da vaca e a enchia de leite fresco. Misturado à cachaça dava um gosto especial.   
Em casa, a única fonte de informação era um rádio Semp, valvulado, com quatro faixas. À noite e pela manhã, meu irmão sintonizava as rádios de São Paulo. Por ali, a gente sabia o que se passava no Brasil. Televisão apenas na cidade. Foi num distrito Marilândia do Sul, chamado Leão do Norte, que eu assisti à Copa do Mundo de 1970. Numa TV Colorado em preto e branco eu vi o Brasil ser tricampeão mundial no México.
Mas uma notícia no rádio e espalhada pelos vizinhos perturbou aquela vida tranquila na roça. Começamos a ouvir uma palavra estranha, que logo ganhou lugar nos bate papos em meio às fileiras de pés de café. Era a meningite. Uma doença que provocava uma terrível dor de cabeça que levava à morte. Diziam que a dor de tão forte chegava a trincar o osso do crânio.
As crianças eram as maiores vítimas. Eu ficava apavorado. A mãe não deixava a gente tomar sol nem sair de casa, à noite, com medo do sereno, que, dizia ela, poderia desencadear aquela terrível doença. Em 1974, o Brasil viveu uma epidemia de meningite. Ao pesquisar o assunto verifico que foram dois subtipos de meningite meningocócica. Um tipo C, em 1971, e outro tipo A, em 1974.  
Dor de cabeça, febre alta, rigidez na nuca. Os dados não são precisos, mas em São Paulo, houve média de mil casos por mês e mais de 500 mortes. Os Jogos Pan-americanos que seriam realizados na capital paulista, em 1975, foram transferidos para a Cidade do México. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas era o único hospital em condições de atender os pacientes infectados. Superlotado foi obrigado a fechar as portas. Muitos ficaram sem atendimento.
Nas periferias das grandes cidades muitos morreram sem diagnóstico e tratamento. No Emílio Ribas, o cenário era assustador. Colchões espalhados pelos corredores, crianças em pias de laboratórios, profissionais de saúde ajoelhados para atendê-las no chão.
O Brasil estava sob uma ditadura militar. O governo, sem meios de resolver a situação e com justificativa de segurança nacional, censurou a divulgação de quaisquer informações sobre a epidemia. Os meios de comunicação não podiam falar do assunto. Sem informação, a maioria não sabia o que fazer frente à doença.  
 Uma vacinação em massa a fez retroceder. A aplicação era feita com injetores de ar comprimido. Parecidos com uma pistola injetava a vacina sob pressão, sem agulha. O governo comprou 60 milhões de dose de vacina da França. Em quatro dias, com ajuda do Exército, foram vacinadas 11 milhões de pessoas. Os casos diminuíram, mas a doença persistiu até 1977. Não desapareceu, mas, atualmente, é controlada com vacinação fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A vacinação com um aparelho de ar comprimido causava pavor nas crianças

Capa da revista Veja denunciava a censura que imperava sobre a doença

A ditadura militar proibiu a imprensa de divulgar informações sobre a epidemia 


sexta-feira, 3 de abril de 2020

Gripe espanhola - Desesperados, doentes procuravam atendimento nas delegacias de polícia



A falta de um sistema de saúde público fez aumentarem os mortos, cujos corpos eram abandonados nas ruas do Rio de Janeiro em meio a ratos e urubus, formando um cenário devastador  


(Donizete Oliveira, jornalista e historiador)


Minha infância se passou na roça. Meu pai, José, era contador de causos. Em dias chuvosos, eu sentava na taipa do fogão a lenha para ouvi-lo. Ele nascera em 1915, infelizmente, morreu com apenas 64 anos de um tumor no intestino. Seus causos, muitas vezes, retratavam episódios de sua difícil infância, em pleno auge da chamada gripe espanhola, que, segundo estudos, matou pelo menos 50 milhões de pessoas pelo mundo entre 1918 e 1919.
Mesmo após seu pico, ainda provocava medo. Meu pai dizia que qualquer gripe levava as pessoas ao desespero, imaginando ser a temida gripe espanhola que, no Brasil, matou em torno de 35 mil pessoas. O Rio de Janeiro, que tinha 910 mil habitantes, em 1918, foi a cidade que mais sofreu com a pandemia, registrando 15 mil mortes. Em apenas um dia houve 930 óbitos.
O desaparelhamento do setor de saúde contribuiu para a catástrofe. Mas a censura imposta pelos militares ajudou a agravar a situação, criando dificuldades para o esclarecimento público.  Houve um caos na capital carioca. Corpos espalhados pelas ruas em meio a ratos e urubus, e os moradores desesperados, sem poder trabalhar, provocavam saques. Fechamento de cafés, teatros, escolas e clubes sociais e o isolamento familiar atenuou a catástrofe.
Remédio não havia. Vacina nem pensar. A ciência não conhecia a ação dos vírus. De tudo se anunciava para curá-la. Diziam que cachaça, limão, mel e alho faziam efeito. Os ingredientes misturados eram servidos aos doentes. Há quem diga que, retirando o alho, a mistura deu origem à caipirinha. Começava como uma gripe comum e, em pouco tempo, evoluía para pneumonia grave. A pele do doente ganhava um tom azulado, chamado cianose, por causa da falta de oxigênio.
A morte era certa e rápida. Sem sistema de saúde adequado, os doentes, desesperados, procuravam ajuda nas delegacias de polícia. Uma das vítimas foi o presidente da República, Rodrigues Alves. Eleito para seu segundo mandato (1918-1922) morreu antes de assumir o cargo. O lado bom foi que as autoridades começaram a pensar na importância de se estruturar a saúde pública. Assim, nasceu o Departamento Nacional de Saúde Pública que, em 1930, no governo Getúlio Vargas, se transformou no Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Que é embrião do atual Ministério da Saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS), criado na Constituição de 1988.
O carnaval de 1918 fora cancelado por causa da temida gripe, mas, em 1919, com o arrefecimento da doença, ele voltou animado. “Não há tristeza que possa/ Suportar tanta alegria/ Quem não morreu da espanhola/ Quem dela pôde escapar/ Não dá mais tratos à bola/ Toca a rir, toca a brincar...”, dizia uma das inúmeras marchinhas cantadas nos clubes e ruas do Rio de Janeiro. Carmen Miranda emplacou o sucesso: “E o mundo não se acabou”, que dizia: “Anunciaram e garantiram/ Que o mundo ia se acabar/Por causa disso/Minha gente lá de casa/Começou a rezar”.
 A origem da gripe espanhola foi nos Estados Unidos. Navios a levaram para Europa, onde acontecia a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Soldados fracos e doentes nas trincheiras imundas facilitaram a contaminação e transmissão do vírus. Ao Brasil, a doença chegou também por via marítima. Fala-se no navio Demerara, que desembarcara passageiros no Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
O nome “gripe espanhola” não significa que a doença tivera origem na Espanha. Assim foi nominada porque a Espanha, neutra na guerra, foi o país que mais a divulgou. Daí veio o termo “gripe espanhola”. Em 2005, cientistas realizaram o sequenciamento genético do vírus responsável pela pandemia de 1918 e constataram que se tratava da Influenza A (H1N1). Uma cepa deste mesmo vírus voltou a se manifestar em 2009, quando provocou entre 150 e 575 mil mortes no mundo.  

Jornais da época retratam o caos vivido no Rio de Janeiro durante a pandemia

Panfletos distribuídos alertavam sobre a doença que matou milhares no Brasil

O precário sistema de saúde do Brasil não conseguia atender os doentes


quinta-feira, 26 de março de 2020

PESTE NEGRA: ISOLAMENTO SALVOU VIDAS



Cidades cercadas por muros tiveram menos mortes na pandemia que matou entre 25 e 70 milhões na Europa no século 14, cuja transmissão se dava pela pulga dos ratos, que se proliferavam na sujeira urbana
(Donizete Oliveira, jornalista e historiador)

Quando escrevo este texto o Brasil contabiliza 61 mortos e 2.567 infectados pela pandemia do coronavírus. Vários países em quarentena. Mas não é a primeira vez.  Volvendo os olhos na história verificamos que mundo enfrentou algumas pandemias.
A mais terrível foi a peste negra ou peste bubônica, de 1347 a 1350. Historiadores divergem, mas calculam-se entre 25 e 70 milhões de mortes na Europa. Surgida na Ásia em regiões da China e Índia, ela chegou ao continente europeu por navios, cujos porões sujos acumulavam ratos infectados, agentes transmissores da moléstia.
A pulga dos roedores ao picar as pessoas transmitia um bacilo chamado “Yersinia pestis”. Bubônica oriunda de bulbo, furúnculos, que cresciam nos gânglios e se assemelhavam a laranjas. Negra porque a pele ficava manchada por causa da hemorragia interna, que destruía os órgãos. Febre alta, diarreia e delírio completavam o drama dos doentes, que logo morriam.
 No século 14, as cidades europeias eram imundas. Ratos proliferavam a esmo. As casas, muitas em forma de sobrados, não tinham banheiros. O lixo jogado pela janela acumulava nas ruas. As necessidades fisiológicas eram feitas em recipientes e também jogadas janela abaixo. Azar de quem passasse pela calçada no momento.
 A medicina da época não conseguia fazer um diagnóstico preciso da doença. Muitos a consideravam um castigo divino. Deus se vingara da humanidade enviando aquele mal. A Igreja Católica comandava as decisões políticas. Não católicos eram tachados de hereges e culpados pela pandemia. Judeus, principalmente. Os que não foram mortos sofreram perseguição e discriminação.  
Um grupo de supostos médicos tratava os doentes. Eles vestiam uma espécie de macacão preto e uma máscara com formato de bico. Em seu interior havia ervas aromáticas e perfumes, cujo aroma, eles acreditavam que impedia a transmissão da moléstia. A tática não funcionava, pois muitos deles contraíram o mal e morreram.
O que ajudou a amenizar a catástrofe da peste foi o isolamento. Muitas cidades eram cercadas por muros. As autoridades isolavam os moradores, evitando que visitantes de outras regiões ampliasse o contágio. Mas, ao mesmo tempo, a quarentena ajudou a aumentar a discriminação contra pessoas de fora, que passaram a serem vistas como portadoras do mal.
Cadáveres da peste se transformaram em arma de guerra. Corpos contaminados eram arremessados no lugar da munição de canhões para atingir os inimigos. Tática utilizada na Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França (1337-1453) ajudou a disseminar a doença. Não bastasse a pandemia e a guerra, no século 14, uma grande fome arrasou a Europa.  
Só em 1894, o bacteriologista francês Alexandre Yersin descobriu o bacilo da peste bubônica (Yersinia pestis). Outro pesquisador francês Paul Louis Sismond confirmou que as pulgas dos ratos transmitiam a bactéria para o homem e outros animais. Com a chegada dos antibióticos, a doença foi debelada.
Outra pandemia que arrasou o mundo foi a chamada gripe espanhola, entre 1918 e 1920. Estima-se que pelo menos 50 milhões de pessoas morreram. Entre elas o então presidente da República do Brasil, Rodrigues Alves, que fora eleito para seu segundo mandato (1918-1922). Assunto da próxima coluna. 

Doentes agonizavam pelas ruas das cidades na pandemia que arrasou a Europa



Vestimenta tradicional de médicos que atuavam na peste negra


Quadro "Triunfo da morte", de Pieter Bruegel, retrata o caos na pandemia 





terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Dilúvio de lama arrasa família de Noé


(Texto e fotos Donizete Oliveira)
Segunda-feira, 9 de dezembro de 2019, 11h10. Cheguei a Brumadinho. Cidade pacata, de 39.520 habitantes, a 62 quilômetros de Belo Horizonte. Na pequena rodoviária procurei um táxi. Um descia a rua ao lado. Acenei, e ele parou.
Disse que queria ir à comunidade Córrego do Feijão, onde viviam 415 pessoas, pelo menos até a tragédia anunciada, que a assolou. Relatório de Impacto Ambiental divulgado em 2017 e revelado pela mídia indica que a Vale omitiu risco de rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro de 2019.  
            Thiago Mendes da Silva, 34 anos, me conduziu num Pálio Weekend, ano 2014. Ele era consultor de vendas e, há cerca de um ano, começou a trabalhar com o táxi. Cobrou R$ 80 para me levar até a localidade do Feijão, a 15 quilômetros de Brumadinho. Uma estrada pavimentada com rejeito de mineração, alguns buracos e quebra-molas improvisados.
Para ele, fazer aquele caminho é rotina, mas após o rompimento da barragem, tudo mudou. Silva diz não reconhecer a paisagem. Ele sente falta de casas que via da estrada e do vai e vem de gente. “Uns iam, outros vinham, havia mais vida”, diz. “Hoje, a gente só vê tratores e máquinas escavando terra, o que é muito triste porque eu era amigo de vários dos que morreram soterrados na lama”.
Uma das principais ruas que corta o bairro do Feijão não existe mais. Sobraram apenas montes de lama seca e rejeito de mineração. Homens com tratores da Vale trabalham no local. “Aqui havia casas”, aponta Silva. “A lama levou tudo”. Com uma velocidade de 106 quilômetros por hora a avalanche varreu o que tinha pelo caminho.
Andar pelo bairro rural do Feijão é saudar a tristeza. Pessoas cabisbaixas, desconfiadas, revelam uma espécie de ressaca interminável. Falar sobre a tragédia é reviver, rememorar a dor. Eles já falaram muito. Quantas perguntas! Nos dias em que sucederam o rompimento da barragem, aquela comunidade esteve no centro do mundo. Repórteres chegavam e saiam com bloquinhos de anotação, microfones, gravadores, câmeras, fotos, filmagens...
Meu desafio era encontrar alguém que perdera parentes disposto a falar sobre o assunto. Tentei um, em vão; outro se esquivou; mais um, que pediu para eu procurar uma associação que cuida dos parentes de vítimas do rompimento da barragem. Senti que seria complicado, mas não desisti. Até que me indicaram uma casa ao fundo, onde mora Noé, que perdera o filho soterrado na lama.
Dois cachorros me recepcionaram latindo. Um senhor magro, cabelos grisalhos veio ao meu encontro. Apresentei-me e expliquei o que queria, ele concordou em falar. Difícil era compreender sua fala enrolada. Devagar fui decifrando sua pronuncia resultado das sequelas de um acidente vascular cerebral (AVC), que sofrera recentemente.
A doença é uma das causas da tragédia que se abateu sobre Noé Henrique de Oliveira, 61 anos. O dilúvio de lama que arrasou Brumadinho soterrou o filho dele, Rodrigo Henrique de Oliveira, 30 anos. No momento em que a barragem rompeu, ele estava no refeitório da Vale, e a lama cobriu tudo. Encontraram seu corpo após 16 dias. Ele deixou a mulher, quatro filhos e uma tristeza sem fim que arrasou a família.
Noé diz que no dia que antecedeu ao rompimento da barragem, Rodrigo os visitou. Ele foi à casa dos pais e conversou muito até por volta das 21 horas. “Parecia dizer adeus”, conta. “Proseamos sobre vários assuntos, ele jantou, se despediu e foi embora”. No outro dia, foram surpreendidos pelo aviso de que a barragem havia rompido, e seu filho estava no refeitório.
Mas o drama da família continuou. Cinco meses após o dilúvio de lama, Noé perdeu a sogra, cuja doença se agravou com a morte do neto. Uma tia também doente não suportou e morreu. “Homem de Deus, estou sem chão”, lastima, com os olhos marejados. “Tem noite que me levanto e fico andando pela casa feito uma barata tonta, numa angústia que não tem fim”.
O que parece dar um pouco de alento à família é uma cachorrinha que criou cinco filhotes. Eles andam pela casa e despertam a atenção de quem chega. Antes de o repórter perguntar, Noé diz que recebeu pouca ajuda do que lhe prometeram. “Recebo R$ 998 da Vale apenas”, reclama. “Nada paga o que a gente está passando, mas tinha de ser mais, esse valor não dá pra nada”.
Uma cena que não lhe sai da cabeça é a remoção dos corpos retirados da lama. Os helicópteros os levavam, e os bombeiros os envolviam num plástico e os penduravam num cabo instalado num campo improvisado próximo da comunidade do Córrego do Feijão, de onde eram levados para identificação. “Ver aquele monte de cadáver pendurados lá me dava um troço ruim, não posso lembrar daquilo, mas sempre martela na minha cabeça”, afirma.
Despedi-me de Noé e sua mulher, Maria das Dores Barbosa, 52 anos. Voltei a Brumadinho. Fui fotografar o Rio Paraopeba, que corta a cidade. A lama o tingiu de vermelho. Nas margens, há manchas pretas, cor da lama que correu logo após o rompimento da barragem. Parei na ponte. Chuviscava. Do outro lado vinha uma mulher apressada com uma sombrinha.
Esbarrei-me nela e, ao me desculpar, disse que fazia uma reportagem sobre a tragédia de Brumadinho, que até 28 de dezembro de 2019 deixara 259 mortos e 11 desaparecidos.  “Não tenho palavras pra descrever o que aconteceu, destruiu nossas vidas, nosso rio e nossa cidade”, respondeu. Era Fátima Sodré, 56 anos, prima de Rodrigo, filho do Noé, que eu entrevistara no bairro do Feijão.
Segundo ela, que é cuidadora de idosos, Brumadinho não se recupera em menos de duas gerações. Diz que além do primo perdeu amigos, o que lhe dá uma agonia constante. “Que a barragem ia romper se sabia, o problema é que ninguém se importou e deu no que deu”, diz. Quanto ao rio, ela acrescenta que não tem esperança. “Olhe aí, acabou tudo, morreu tudo aí dentro, não tem o que fazer para nosso Paraopeba voltar a ser o que era”.
Assim segue a dolorosa saga da família de Noé e certamente dos demais que perderam parentes, em Brumadinho. Diferente do herói bíblico, ele não se livrou do dilúvio. A avalanche de lama levou o que ele tinha de mais precioso: o filho e arrasou sua família.


Noé clama pela morte do filho, Rodrigo, que foi soterrado pela lama

Debaixo da lama, em Brumadinho, ainda há corpos soterrados

Moradores dizem que o rio Paraopeba nunca mais será o mesmo após a tragédia

                                       VALE DIZ ATUAR PARA REPARAR DANOS


A Vale, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma continuar trabalhando para reparar integralmente os danos causados pelo rompimento da Barragem Córrego do Feijão, com iniciativas para reestabelecer social e ambientalmente os munícipios impactados, priorizando o diálogo próximo com as comunidades e o poder público.
A empresa diz seguir apoiando as ações do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil na busca pelos 11 desaparecidos. Até o momento, 259 corpos foram identificados. Em relação às indenizações individuais e trabalhistas, a empresa já celebrou mais de 4.000 acordos, indenizando integralmente as pessoas. Nestas ações, já foram despendidos recursos de cerca de R$ 2 bilhões.
Essas pessoas têm à disposição o Programa de Assistência Integral aos Atingidos, que dá suporte às famílias para que possam planejar seu futuro. O projeto oferece planejamento e educação financeira; apoio para compra de imóveis; assistência técnica rural, ao microempreendedor e às atividades de complemento de renda; além de acompanhamento social. Até o momento, 650 pessoas já aderiram ao programa voluntariamente.
A Vale celebrou a prorrogação do auxílio emergencial, por 10 meses. A empresa entende que a prorrogação do acordo reforça seu compromisso com a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, de forma célere e abrangente com iniciativas para reestabelecer social e ambientalmente os munícipios impactados, priorizando o diálogo próximo com as comunidades e o poder público.
O acordo foi homologado pela 6ª Vara da Fazenda Pública, e contou com a participação do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Ministério Público Federal, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, Advocacia Geral da União, Advocacia Geral do Estado de Minas Gerais, Defensoria Pública Federal e Estado de Minas Gerais.
A empresa apresenta também à comunidade do Córrego do Feijão um projeto de requalificação urbana chamado território-parque, um conceito que inclui ações de melhoria da infraestrutura (reforma, pavimentação e urbanização de ruas, casas e estruturas), reativação econômica e desenvolvimento do turismo local, além de cuidado com a memória das vítimas do rompimento da barragem.
O Ministério Público, de Minas Gerais, denunciou por crime doloso, funcionários da Vale. Ninguém está preso. 





sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

UM PÉ DE CACAU EM MARINGÁ



(Texto e foto Donizete Oliveira)
Eu passava sempre por ali. Um pé de fruta diferente se destacava. À primeira vista, não reconheci. Minha memória visual ajudou. Lembrei-me dos frutos quase redondos, bicudos. Naqueles livros didáticos do antigo segundo grau eu sempre os via. É cacau, recordei!
Muita gente para em frente à grade e arrisca palpites. Quase sempre o confunde com caju. Mas aí alguém se lembra do chocolate que remete ao cacau. Uma pesquisa no Google diz que a safra de cacau vai de setembro a fevereiro, e a civilização maia o considerava um alimento que deuses davam aos homens.
Após muita insistência consegui falar com o proprietário do terreno de 600 metros quadrados, com duas casas, na Avenida Juscelino Kubitschek, em Maringá. Fiquei na espreita. De repente, chegou Melchiades Ribeiro dos Santos, um maringaense nascido em 10 de dezembro de 1956. Seu pai, Tertuliano, é de Jequié, e sua mãe, Matilde, de Mutuípe, ambos os municípios da Bahia.
            Pedreiro, duas filhas, viúvo, ele conta que plantou o pé de cacau em 1983. Trouxe a muda de Jequié. De lá para cá foram muitas safras. O pé ficava no fundo de casa e foi transferido para frente, mas sempre produzindo vistosos frutos, que começam no tronco e se espalham pelos galhos.
         Santos diz que a curiosidade sobre o cacaueiro é constante. No momento da entrevista, chegou um rapaz de bicicleta em busca de um fruto. A mulher dele passara pelo local e quis experimentá-lo. “Ela insistiu tanto que eu vim aqui algumas vezes até encontrar o proprietário para pedir um fruto”, afirmou.
         Mas o pé de cacau pode mudar de endereço. Santos pretende vender o terreno com as casas. Vai depender do novo proprietário. “Mas vou cultivar mudas e levar pra outro lugar, não quero perder a planta que, aqui no Sul, chama atenção de muita gente”, afirma.





O pedreiro Melchiades e o pé de cacau que plantou em 1983, em terreno na Avenida JK