PESTE NEGRA: ISOLAMENTO SALVOU VIDAS
Cidades cercadas por muros tiveram menos
mortes na pandemia que matou entre 25 e 70 milhões na Europa no século 14,
cuja transmissão se dava pela pulga dos ratos, que se proliferavam na sujeira
urbana
(Donizete Oliveira, jornalista e historiador)
Quando
escrevo este texto o Brasil contabiliza 61 mortos e 2.567 infectados pela
pandemia do coronavírus. Vários países em quarentena. Mas não é a primeira vez.
Volvendo os olhos na história
verificamos que mundo enfrentou algumas pandemias.
A
mais terrível foi a peste negra ou peste bubônica, de 1347 a 1350. Historiadores
divergem, mas calculam-se entre 25 e 70 milhões de mortes na Europa. Surgida
na Ásia em regiões da China e Índia, ela chegou ao continente europeu por
navios, cujos porões sujos acumulavam ratos infectados, agentes transmissores
da moléstia.
A
pulga dos roedores ao picar as pessoas transmitia um bacilo chamado “Yersinia
pestis”. Bubônica oriunda de bulbo, furúnculos, que cresciam nos gânglios e se
assemelhavam a laranjas. Negra porque a pele ficava manchada por causa da
hemorragia interna, que destruía os órgãos. Febre alta, diarreia e delírio
completavam o drama dos doentes, que logo morriam.
No século 14, as cidades europeias eram imundas.
Ratos proliferavam a esmo. As casas, muitas em forma de sobrados, não tinham
banheiros. O lixo jogado pela janela acumulava nas ruas. As necessidades
fisiológicas eram feitas em recipientes e também jogadas janela abaixo. Azar de
quem passasse pela calçada no momento.
A medicina da época não conseguia fazer um
diagnóstico preciso da doença. Muitos a consideravam um castigo divino. Deus se
vingara da humanidade enviando aquele mal. A Igreja Católica comandava as
decisões políticas. Não católicos eram tachados de hereges e culpados pela
pandemia. Judeus, principalmente. Os que não foram mortos sofreram perseguição
e discriminação.
Um
grupo de supostos médicos tratava os doentes. Eles vestiam uma espécie de
macacão preto e uma máscara com formato de bico. Em seu interior havia ervas
aromáticas e perfumes, cujo aroma, eles acreditavam que impedia a transmissão
da moléstia. A tática não funcionava, pois muitos deles contraíram o mal e
morreram.
O
que ajudou a amenizar a catástrofe da peste foi o isolamento. Muitas cidades
eram cercadas por muros. As autoridades isolavam os moradores, evitando que
visitantes de outras regiões ampliasse o contágio. Mas, ao mesmo tempo, a
quarentena ajudou a aumentar a discriminação contra pessoas de fora, que
passaram a serem vistas como portadoras do mal.
Cadáveres
da peste se transformaram em arma de guerra. Corpos contaminados eram
arremessados no lugar da munição de canhões para atingir os inimigos. Tática
utilizada na Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França (1337-1453) ajudou a
disseminar a doença. Não bastasse a pandemia e a guerra, no século 14, uma
grande fome arrasou a Europa.
Só
em 1894, o bacteriologista francês Alexandre Yersin descobriu o bacilo da peste
bubônica (Yersinia pestis). Outro pesquisador francês Paul Louis Sismond
confirmou que as pulgas dos ratos transmitiam a bactéria para o homem e outros
animais. Com a chegada dos antibióticos, a doença foi debelada.
Outra
pandemia que arrasou o mundo foi a chamada gripe espanhola, entre 1918 e 1920.
Estima-se que pelo menos 50 milhões de pessoas morreram. Entre elas o então
presidente da República do Brasil, Rodrigues Alves, que fora eleito para seu
segundo mandato (1918-1922). Assunto da próxima coluna.
Doentes agonizavam pelas ruas das cidades na pandemia que arrasou a Europa |
Vestimenta tradicional de médicos que atuavam na peste negra |
Quadro "Triunfo da morte", de Pieter Bruegel, retrata o caos na pandemia |
Grande Donizeti.
ResponderExcluirValeu
ResponderExcluirBelo e informativo texto, caro Donizete. Em relação à revista Tradição, vc deu um salto de 1.000% na qualidade editorial. Parabéns,amigo.
ResponderExcluirObrigado. Abraços.
ExcluirExcelente!
ResponderExcluirParabéns.
ResponderExcluirParabéns
ResponderExcluirObrigado a todos.
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