Personagem conhecido nos bastidores
políticos maringaense, Antero Rocha começou a militância no movimento
estudantil passou pelo antigo MDB com atuações na imprensa e na realização de
eventos artísticos em Maringá
(Texto e foto: Donizete Oliveira)
Dizem que ele estava sentado à mesa de um bar e um amigo espalhou: ali
está o embaixador do Senegal! Trataram-no com todas as honras, servindo bebidas à vontade às mesas que ele ordenasse. Mas desfeita a farsa cada um teve de pagar o que consumiu a mando do suposto embaixador. A história corre. Cada um conta de um
jeito. O próprio não confirmava, disfarçava com um sorriso no canto da boca.
Antero
Silva da Rocha viveu a história política de Maringá desde 1970. Nascido num
lugarejo chamado Brejinho das Ametistas, distrito de Caetité (BA), numa família
de 12 irmãos. Em busca de dias melhores, se mudaram para Bandeirantes, ele
tinha dois anos. O pai, Sebastião, trabalhava no Instituto Brasileiro do Café (IBC),
e foi transferido para Cianorte.
Talvez
fosse melhor perguntar em que Rocha não trabalhou. O habitual “fiz de tudo um
pouco” lhe caía como luva. Office-boy, lavador de carro, auxiliar de feirante,
vendedor de flores eram alguns dos seus afazeres. Em 1970, ele se mudou para Maringá, onde
vivia com familiares. Entre eles, a mãe, Maria Ribeiro da Silva, com 90 anos, mas firme e forte.
A
militância no movimento estudantil lhe abriu as portas para a política. Rocha
ingressou no antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), onde estavam as
principais lideranças que se opunham à ditadura militar. Mas ele ressalva: “Eu
não levo muito em conta essa coisa de partido, sempre sou oposição às coisas
que considero erradas”. “Até hoje sou assim”, ressaltou em entrevista à Revista
Tradição.
Ele
se lembrava com orgulho da eleição parlamentar de 1974, quando o MDB fez
maioria no Parlamento, assustando o governo federal e seu partido, a Arena. Um
dos eleitos na época foi Walber Guimarães, que Rocha assessorou por 10 anos.
Também trabalhou para o então deputado Luís Gabriel Sampaio. “Era uma época boa
em que o Brasil vivia uma ascensão política, com novos nomes”, disse, citando
Álvaro Dias, José Richa e Ulysses Guimarães, que comandou a abertura política
com a eleição e morte de Tancredo Neves, em 1985. No lugar dele assumiu José
Sarney, que governou até 1990.
Em
Maringá, Rocha candidatou-se a vereador por duas vezes, mas não obteve êxito.
“Saí pra ajudar o partido”, justificava, se referindo ao MDB. Mas o negócio
dele era mesmo os bastidores. Nos anos 70 e 80, chegou a participar de seis a
oito comícios por dia, apoiando seus candidatos. “Às vezes, ficava até 40 dias
fora de casa correndo o Paraná”, contou. No entanto, sua atuação foi além da
política, chegando à mídia e ao entretenimento.
Trouxe
vários shows artísticos e peças de teatro para exibição em Maringá. Uma com
Zilda Mayo, na ditadura militar, deu o que falar e chegou a ser
proibida. Durante a apresentação, os atores ficavam nus no palco. Após
muita discussão acabou liberada e apresentada no antigo Cine Horizonte. Também
auxiliou Morimassa Miyazato, o More, na realização da Primeira Mostra de Cinema
de Maringá, em 1979.
Na
imprensa, Rocha atuou em jornais, revistas e até na antiga TV Tibagi. Sócio da
“Aqui, revista”, lançou “Mulher atual”, que trazia beldades na capa. Uma delas
estampou Deise Nunes, Miss Brasil, em 1986, e Kiki Pinheiro, Garota de Ipanema,
no mesmo ano. Ambas estiveram em Maringá num desfile na antiga boate Kalahari. Ele assinava a coluna “Grito de alerta”, com
críticas ácidas a políticos. Diz que parou porque o ameaçaram até de morte.
Divorciado,
sem filhos, ele disse que a corrupção, que tanto causa frisson, é uma prática
antiga. “O povo precisa eleger melhor seus representantes, deixando de escolher
Barrabás”, afirmou. Sobre Maringá, entende que todos os prefeitos de alguma
forma contribuíram para o desenvolvimento da cidade. “Eu amo Maringá e a vejo
com boas perspectivas, no caminho certo”, afirma Rocha, que apesar de
diabético, dizia levar uma vida normal. “É o mal do século, precisamos saber
conviver com ela”.
Assim
era Antero Rocha, um filósofo das amenidades! Que não desistiu da militância
política. Ele morreu hoje (17 de novembro de 2020), aos 69 anos, de infarto.
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Antero Rocha posa para foto no centro de Maringá |
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Em 1981, estilo black power |