segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Pássaros de Maringá

Fotógrafo já registrou quase 200 espécies no Parque do Ingá e no quintal de casa, nos fundos da Acema, onde mantém recipiente com 
frutas e água para atrair os visitantes que aparecem todos os dias 

Texto Airton Donizete
Fotos Wellington Carvalho

Maringá poderia ser chamada “cidade dos pássaros”, como Arapongas. Afinal, o que não falta por aqui é pássaro. São muitos, entre cores e cantos que empoleiram nas árvores das ruas e parques da cidade. Parque do Ingá, Alfredo Nyffeller, Bosque II e das Grevíleas abrigam diversas espécies. Quem se dispuser a observá-las e fotografá-las poderá visualizar algumas raras e belas. É o que constatou o fotógrafo Wellington Cesar de Carvalho, 47.
Natural de Jandaia do Sul, Carvalho começou a se interessar por fotografia ainda criança. A inspiração veio do pai, que era fotógrafo. Em 1984, morando em Nova Aurora, no oeste do Paraná, trabalhava num foto do pai. Em 1992, mudou-se para Maringá e se profissionalizou. Hoje, atua na área esportiva e de eventos sociais. Mas sempre que pode se dedica ao seu hobby: fotografar pássaros.
Paixão que começou em 2008, quando viu um gavião fugindo de outros pássaros que o atacavam. “Aquilo me chamou atenção e comecei a pesquisar os hábitos das aves”, diz. “Descobri que era um assunto pertinente e resolvi me dedicar a ele”. Dedicação que exige paciência e persistência. Muitas vezes, é preciso ficar horas em um local à espera do melhor ângulo para registrar alguma ave.
Carvalho mora nos fundos da Associação Cultura e Esportiva de Maringá (Acema), na Avenida Kakogawa. Para atrair pássaros, colocou um recipiente com água e frutas no quintal. Várias espécies vão lá banhar e comer. Das cercas de 200 que fotografou em Maringá, 140 estão no site Wiki Aves, uma enciclopédia de aves do Brasil na internet. “É importante para conhecermos mais a fauna de nossa região, especialmente, Maringá”, diz ele. Na parte da manhã, se estiver de folga, fica à espreita no quintal de casa ou no Parque do Ingá para mais um clique.
Carvalho busca patrocínio e local para fazer uma exposição com suas fotos de pássaros de Maringá.
Sequência de fotos:
Tico-tico-rei (Lanio cucullatus)
Gavião Caracará (Caracara plancus)
Sanhaçu-papa-laranja (Pipraeidea bonarienses)
Pitiguari (Cyclarhis Gujanensis)
Saíra Viúva (Pipraeidea melanonota)
O fotógrafo Wellington observa pássaros em

busca do melhor ângulo para fotografá-los














quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

VIAGEM - MORE EM CUBA


 Descendente de japonês, apaixonado por cinema e colecionador de filme se impressionou com a cultura e o comportamento das pessoas da ilha caribenha, que visitou a serviço da Cinemateca do Rio de Janeiro, onde trabalhou por dez anos

Texto e foto Airton Donizete

Desta vez não pude ver Toddy e Lili, os gatos que passeiam, com o rabo levantado, pela casa do More. O bate-papo foi num boteco no centro de Maringá.  Cinema não era o assunto principal, mas tinha a ver com a prosa. More falou de uma viagem que fez a Cuba, em 1985. Na época, era funcionário da Cinemateca do Rio de Janeiro, onde trabalhou por dez anos. Recebeu uma incumbência de visitar países da América Central e do Sul para conhecer experiências de preservação da produção audiovisual.
Morimassa Myiazato, conhecido por More, é um descendente de japonês apaixonado por cinema. Mas não é só. A vida dele, como já disseram, daria um filme, tamanha suas histórias. No apartamento onde vive em Maringá dispõe de mais de três mil títulos de filmes. Com 71 anos, nascido em Pompéia (SP), morou no Japão, Rio de Janeiro e, entre idas e vindas, vive em Maringá. Em 1978, realizou a “1ª Mostra de Cinema de Maringá”. Evento que trouxe importantes nomes do cinema nacional à cidade.
Bem, mas vamos à viagem a Cuba. A exemplo de sua atuação em outras áreas culturais, pelos menos até a visita do More, a ilha caribenha dispunha de um grande acervo cinematográfico e de sólida formação de atores em uma concorrida escola de cinema. A recepção do povo cubano o encantou desde a chegada ao Aeroporto Internacional José Martí, em Havana. More se impressionou tanto com a cidade que se esqueceu de ir às sessões de cinema no Cine Charles Chaplin, em Havana.
Um passeio por Havana Velha, com seus casarões coloniais o deixou de cabeça erguida. Não conseguia baixá-la. Observava ininterruptamente as fachadas antigas. Declarada Patrimônio Histórico pela Unesco, é o centro histórico da cidade.
 - É um lugar pra você dobrar o mapa local, dispensar o guia e se deixar levar pelas ruas, que vão formando um cenário cada vez mais nostálgico e interessante -, descreve More.
Das fachadas imponentes para a medicina.  Ele a conheceu, e aprovou. No Rio de Janeiro, sofrera um acidente. Um painel caiu-lhe sobre o braço, cortando-o. O tratamento lhe provocou calombos e coceiras pelo corpo. Ele aproveitou a viagem a Cuba para tratar o problema. No hospital, lhe disseram que era alergia provocada por excesso de antibióticos. O tratamento, que o curou em oito meses, o fez perceber que a medicina cubana é parecida com a japonesa.
- No Japão, o médico atende a gente de maneira amistosa, conversa, pergunta e só receita algum medicamento quando tem certeza do diagnóstico -, afirma ele, que morou por mais de quatro anos naquele país.
Outra coisa que o agradou em Cuba é ausência de consumismo. Nos restaurantes, os cardápios não têm mais que quatro opções. Uma delas é o que chamam de “Pollo”, frango frito, um prato bastante pedido. Havia uma fila imensa para apreciar a iguaria. Ele encantou-se também com a famosa sorveteria de Havana, a “Heladería Coppelia”. As opções de sabores são poucas, mas o atendimento é caloroso. O local vive cheio de turistas, que não perdem oportunidade de experimentar o sorvete cubano. More não é fã do comunismo, mas é adepto do consumo cauteloso.  
- Pra que supérfluo? Precisamos apenas do necessário pra viver. Seja no comunismo ou no capitalismo.
Em Cuba, ele queria encontrar a bailarina Alicia Alonso, ícone do ballet mundial. Mas na mesma ocasião ela se apresentava no Brasil. A ausência de Alicia não o decepcionou. Um dia More se preparava para dormir, no hotel, alguns cubanos apareceram e o convidaram para uma recepção. Eles o levaram a uma reunião com alguns membros do governo cubano. Ao chegar, notou que uma vitrola tocava Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros artistas da MPB. Ele se sentiu em casa. Naquela época, não bebia álcool e não pôde degustar o autêntico rum cubano.
De madrugada, eles o levaram para conhecer alguns pontos de Havana. Estiveram até numa área proibida comandada pelo exército onde havia carcaças de armas da antiga União Soviética. Trouxeram-no de volta ao hotel. A saudade dos filhos pequenos o perturbava, e More resolveu voltar ao Brasil. Desistiu de conhecer outras cinematecas de países da América Central e Sul, que estavam em seu roteiro. Mas a de Cuba valeu a viagem.
- O tratamento que eles dão à cultura e à arte é impressionante. A cinemateca cubana foi uma das mais organizadas que conheci -, ressalta.
No dia seguinte a esta entrevista morreu Fidel Castro. Amado e odiado, o líder cubano deixou um legado que impressionou até mesmo um descendente de japonês, cujos ideais passam longe do comunismo que impera por décadas na ilha caribenha.

Fotos:
More no seu acervo com mais de três mil filmes, na sua casa, em Maringá e, abaixo, o crachá que usou na sua visita a Cuba








domingo, 22 de janeiro de 2017

VIAGEM - DESAFIOS EUCLIDIANOS





Visitar São José do Rio Pardo, cidade do interior paulista que abriga o mausoléu com restos mortais do autor de “Os Sertões”, uma ponte que ele construiu sobre o Rio Pardo e a casa na qual morou, hoje Casa Euclidiana, é uma espécie de tônico, que revitaliza a alma

(Texto e fotos Airton Donizete)

A vida é mesmo um desafio. Sair de Maringá e percorrer 680 quilômetros até São José do Rio Pardo (SP) debaixo de uma chuva incessante é um desafio. Nem todos motoristas respeitam a velocidade e, mesmo com a pista alagada, fazem ultrapassagens arriscadas. Outro desafio é o próprio bolso. Haja dinheiro para pagar tanto pedágio. Mas quem leu “Os Sertões” não desanima. Veja o que diz Euclides da Cunha.
“Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto”, diz um dos trechos do magnifico livro de Euclides da Cunha. Ele se refere à bravura do sertanejo de Canudos, no sertão baiano.
Tudo que vem de Euclides parece mesmo desafiar. O próprio “Os Sertões” é um livro árido, pesado. No tamanho e na compreensão. Não é qualquer leitor que encara suas mais de 600 páginas. Dividido em: a terra, o homem e a luta, é um convite constante ao dicionário. Há palavras profundas, arcaicas e típicas do agreste. Um livro pouco lido e muito comentado.
Mas esses detalhes fazem dele o clássico que é. Datado, mas presente. De valor perene. Feito o sertanejo que Euclides descreve. A aparência ilude. De repente, “ele transfigura-se, basta qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas”. Todo drama que assola o Brasil está em “Os Sertões”. Canudos, Conselheiro e seus seguidores são a síntese de nossos dias.
Andar pelas ruas íngremes de São José do Rio Pardo, cidade de pouco mais de 50 mil habitantes, também é um desafio. Quem não tem as pernas preparadas sofre. Para vencer o mormaço e o sol ardido, com cara de chuva, refleti sobre "Os Sertões”. Um livro, cujo desafio se divide na compreensão do leitor que se aventura pelas suas páginas e na sua mensagem, que é um convite à resistência. “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu ao esgotamento completo”, escreveu Euclides.
De um lado, um governo afoito, querendo a qualquer custo destruir Canudos; de outro, os conselheiristas, que resistiram até o fim. Arrasaram o arraial, matando pelo menos 25 mil pessoas. Mas só derrubaram Canudos na quarta expedição. Não levaram de bandeja, como previam. Os adeptos de Conselheiro, apesar da religiosidade que os impregnava, desafiaram e resistiram ao poder constituído.
Passei pela Casa Euclidiana, onde o escritor morou, e cheguei à Ponte Euclides da Cunha sobre o Rio Pardo. Outro desafio que cruzou o caminho do autor de “Os Sertões”. Construída pela primeira vez em 1897, desabou 50 dias depois. Engenheiro, Euclides assumiu a tarefa de reerguê-la. Inaugurou-a em 1901. Um trabalho árduo, mas ele ainda arrumou tempo para escrever seu monumental livro numa cabana de zinco; até hoje preservada nas margens do Rio Pardo, onde também está o mausoléu com os restos mortais dele e do seu filho, cujo nome é o mesmo do pai.
Depois de algumas reformas, a ponte continua de pé. Para preservá-las, proibiram ônibus e caminhões de trafegarem sobre ela. É uma obra que atesta a seriedade de Euclides. Após conclui-la, mandou embalar todo o material que sobrara e devolveu ao governo do Estado de São Paulo. Em 1902, lançou “Os Sertões”, concluindo outro desafio iniciado em 1896 na Guerra de Canudos. Correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, ele cobriu o conflito.
Escritor, engenheiro, militar, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, sociólogo, professor, filósofo, poeta, romancista e ensaísta. O que mais dizer de Euclides? Um homem completo. Só não evitou a traição da mulher, Anna Emília Ribeiro da Cunha, com o cadete Dilermando de Assis. Tentou matá-lo, mas acabou morto por ele em 1909. Em 1916, seu filho, Euclides da Cunha Filho, tentou vingar a morte do pai e também foi assassinado por Dilermando.

Mas como Euclides descreveu: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral”. As máximas euclidianas são uma espécie de tônico, que revitaliza a alma. De São José do Rio Pardo, segui para Monte Belo (MG). Se Minas é mesmo um estado de espírito, que venham os mineiros. Novos desafios à vista.
FOTOS: 
Mausoléu onde estão os restos mortais de Euclides da Cunha

Redoma de vidro protege a cabana; nela Euclides escreveu "Os sertões"

Casa em que morou o escritor em São José do Rio Pardo

O escritor Euclides da Cunha















quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Um blog nascendo...

Pois é. Resolvi criar um blog. Não é um blog de notícias. Destes que existem por aí recheados de notas políticas ou desgraças policiais. Não significa que não fale deste temas. Falarei, sim. Mas virão em tom de reportagens. Eventualmente, poderia postar alguma nota, mas não serão a tônica deste blog. As reportagens que produzo (frilas) serão postadas aqui também. Portanto, serão assuntos aprofundados. No estilo jornalismo narrativo. 
E vamos nós. Estou aprendendo ainda a mexer com essa parafernália digital. Devagar vou ajeitando, incrementando. E logo estará do jeito que quero. 
E vamos nós... um Repórter em Ação, sempre...

Jornalismo Literário

Leitura
Jornalismo literário

O livro “Jornalismo Literário: tradição e inovação” (Editora Insular), da professora Mônica Martinez, concebido por meio de pesquisas científicas realizadas sobre o tema ao longo de sete anos, sintetiza reflexões desenvolvidas pela autora nos últimos 25 anos. Uma das conclusões é a de – felizmente – se tratar de um campo em construção.
Aliás, sua grande riqueza parece ser a pluralidade de vozes. O primeiro bloco, denominado “História, conceitos e filosofia”, compreende um estudo sobre os fundamentos do Jornalismo Literário. O segundo bloco, batizado de “O gênero”, aborda a modalidade por meio de seus formatos, como histórias de vida, narrativas de viagem, narrativas biográficas e obituários.
O terceiro bloco, “A presença” nas mídias, discute a evidência de elementos do Jornalismo Literário em outros meios além do impresso, como radiofônico, televisivo, cinematográfico – no caso de documentários − e também nos ambientes digitais.
O quarto bloco, “Experimentações”, novas metodologias e possíveis inovações, debate a possibilidade de se implementar procedimentos na apuração e redação de textos em Jornalismo Literário, de haicais ao método da Biografia Humana. Ao final, O pequeno guia comentado dos livros de Jornalismo Literário pode servir como um mapa para quem está se iniciando nesse tema.

Monica Martinez, entre outras coisas, é professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Sorocaba (UNISO) e doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.