terça-feira, 28 de abril de 2020

UM CASO DE ABDUÇÃO EM MARINGÁ


Há 40 anos óvni teria pousado em terreno no Jardim Alvorada, um dos bairros mais conhecidos da cidade, e capturado o eletricista Jocelino Mattos, que viu sua vida se transformar após o fenômeno, que até hoje atrai mídia, ufólogos e curiosos
(Texto e fotos Donizete Oliveira)
Em 13 de abril de 1979 (Sexta-feira Santa), Jocelino de Mattos, então com 20 anos, e seu irmão, Roberto Carlos de Mattos, 13, voltavam da casa de uma irmã por volta das 23h30. De repente, na Rua Roberto Simonsen, nas proximidades da Escola Municipal Ariovaldo Moreno, no Jardim Alvorada, avistaram uma estrela.
Brilhante com uma espécie de cauda. Não deram atenção, mas o objeto começou a se deslocar rapidamente no céu. Roberto Carlos cismou que havia algo estranho com aquela estrela. Mas o irmão o encorajou. “Não é nada, vamos embora”, disse. “É uma estrela comum, talvez com um pouco mais de brilho”.
Na época, havia muito mato e plantios de soja no Jardim Alvorada. Eles estavam a cerca de 500 metros de um abacateiro numa trilha no meio de uma terra preparada para o plantio de cereais. A estrela desceu e pousou no solo a alguns metros da árvore.
Ouviram um ruído estranho e, de repente, começaram a ser arrastados em direção àquela luz. “Passamos por uma valeta de uns dois metros de profundidade por três de largura que havia no local, sem ver e sentir nada”, conta Jocelino, que hoje vive no Conjunto Habitacional Requião 2, em Maringá, bairro próximo do Alvorada. “Só notei que a gente chegou debaixo do abacateiro e daí em diante não vimos mais nada, desmaiamos”.
Em entrevista ao jornal O Diário do Norte do Paraná, que noticiou o caso em 17 de abril de 1979, Jocelino disse que eles queriam andar em sentido contrário ao objeto, mas uma força estranha os atraía. “Sentimos falta de ar, nosso coração disparou, e na nossa cabeça havia um chiado infernal”, declarou. “Quando chegamos perto da estrela (nave) caímos e começamos a ouvir uma fala estranha que parecia inglês, francês, sei lá o que era aquilo... a gente não entendia nada”.
Apenas Jocelino teria sido levado ao interior do objeto, seu irmão teria ficado desacordado no solo. Ele se recorda apenas de uma frase que lhe fora transmitida telepaticamente: “Nossa missão não está terminada”, teria afirmado um dos seres, cuja aparência, Jocelino diz não se diferenciar de humanos. Tinham costeletas, eram brancos, usavam botas pretas e vestuário prata.  
Segundo a mãe deles, Maria Rosa Mattos, que morreu em 2017, após o episódio, de madrugada, ao chegarem à casa da família, a cerca de 800 metros do local, pediram para não lhes tocar que estavam dando choque elétrico.
Uma irmã duvidou, passou a mão neles e sentiu um choque. Ela contou ao jornal O Diário que a estrela voltara a brilhar novamente e lá do horizonte emitiu um feixe de luz atingindo Jocelino e Roberto Carlos, que caíram duros na porta da casa da família.
Os vizinhos ajudaram carregá-los para dentro de casa. “Passaram cânfora e álcool no nosso corpo”, diz Jocelino. Os irmãos, que ficaram das 23h30 de 13 de abril às 4h30 da madrugada do outro dia, quando chegaram à casa da família estavam exaustos, quase sem força, e com a roupa e o corpo sujos.
Por volta das 7 horas da manhã começaram a chegar carros de reportagem à casa da família Mattos. Com medo, eles procuraram a polícia e registraram queixa. Soldados do 4º Batalhão de Maringá averiguaram o terreno ao redor do abacateiro, mas nada encontraram. “A repercussão e as constantes brincadeiras maldosas provindas de algumas pessoas me chateavam muito”, afirma Jocelino. 
Para evitar curiosos e imprensa que o procuravam constantemente, ele permaneceu por três anos trabalhando em outras cidades. “Não aguentava mais falar sobre o assunto”, diz. Após o caso, a vida dele se transformou. Passou a fazer experiências com tratamentos naturais e a produzir remédios por meio de elementos químicos e plantas medicinais, os quais ele doa a pessoas com problemas de saúde que o procuram.

ABDUZIDO DESCREVE EXPERIÊNCIA SEXUAL


O médico Osvado Alves, de Mandaguari, que morreu em 2017, e se dedicava ao tratamento natural e à hipnose, pesquisou o caso. Em 1981, ele submeteu Jocelino e sua mãe, Maria Rosa Mattos, a uma sessão de hipnose. Sob as indagações do médico, eles descreveram o que se passou naquele dia. A seguir, um trecho do relato de Jocelino.

Osvaldo Alves - Em que lugar da nave você está?
Jocelino - Estou em algo parecido com uma cadeira de dentista, muito moderna, sofisticada e mecanizada. A temperatura no ambiente é normal. Tem um aparelho na minha cabeça.
OA - Como os equipamentos são colocados na sua cabeça?
Jocelino - É parecido com um capacete, Sinceramente, não vejo muito bem. Sei que estou consciente o tempo todo, mas vejo somente que o capacete é móvel.
OA - Você conversa com quem na nave?
Jocelino - Converso somente com a mulher. Porém, outros seres falavam comigo antes de ela chegar. Ela entrou por uma porta e sentou ao meu lado. Começa a me fazer... começa a me acariciar amavelmente... Passa a mão pelo meu rosto, cabelo, peito, por todo meu corpo.
OA - Você fica excitado?
Jocelino - Sim. Agora ela abre uma parte da roupa, uma espécie de zíper. Não posso ver nada direito... estou em cima dela. Fazemos sexo.
OA - Que tipo de sensação ela demonstra?
Jocelino - Ela não demonstra nada, nenhuma sensação. Tem um prazer gelado... Diz poucas palavras, apenas que é uma mulher viajante, mas não especifica que tipo de pessoa é.
OA - Como se comunicam?
Jocelino - Conversamos por pensamento. Ela não precisa mexer os lábios para conversar.
OA - Como é essa mulher?
Jocelino - Ela usa um macacão preto. Seus cabelos são longos, negros e caem sobre os ombros. Ela não permite que eu veja seu corpo, permanece vestida o tempo todo. É uma moça alta, de mais ou menos 1,75 metros de altura (mais alta que eu), seus olhos são negros, tem sobrancelhas e sua pele é morena, mais escura que a dos homens que estão na nave.
OA - Tem outras características?
Jocelino - O nariz e os olhos são iguais aos nossos, tem lábios médios e não vejo se há dentes. Tem orelhas comuns. É uma moça muito bonita em relação às terráqueas. Não usa nenhuma joia, sua roupa é fechada até o pescoço, não consegui saber se tinha seios ou não. Ela não permite que eu veja ou toque.
OA - O que vocês conversaram?
Jocelino - Ela me diz que talvez a semente cresça. Nós conversamos sobre a Terra, sobre a maneira neurótica que as pessoas vivem. Ela diz que a vida aqui é cheia de conflitos, guerras e fome, que ninguém se preocupa com os efeitos de tudo isso. Diz também que ela como todos os outros da nave são amigos, que vieram numa missão para nos julgar, ou algo parecido... Agora ela se retirou pela mesma porta que entrou.
OA - Fale mais sobre essa missão. Eles vieram para nos julgar?
Jocelino - Eles teriam que observar nosso comportamento, ver a nossa ética e esse foi um dos motivos pelo qual me raptaram. Eles dizem vir de um lugar muito longe, entre as estrelas.
OA - Como você sai da nave?
Jocelino - Flutuando, levam-me até o lugar onde o meu irmão está deitado. A nave está a uma distância de mais ou menos 800 metros da árvore, a cinco metros do solo. Vou junto de meu irmão e não vejo mais os ocupantes da nave.
OA - o que faz ao encontrar seu irmão?
Jocelino - Tento ir para casa. Estamos muito desgastados, precisamos nos apoiar para levantar. Eu me sinto muito mal. Lembro que no caminho para casa, vi três luzes passando como um flash no céu.

  UFÓLOGO DESTACA IMPORTÂNCIA DO CASO

O professor de yoga e meditação, Paulo Cesar de Oliveira, 55, pesquisa ufologia há 30 anos. Em 2001, lançou o livro “Naves Cósmicas – portal de luzes”, que aborda o assunto. Para ele, o caso que envolve Jocelino é um dos mais importantes da ufologia porque revela um contato “de nível profundo”.  
Avalie o “caso Jocelino”?
Utilizando parâmetros da ufologia científica, na classificação criada pelo astrofísico Josef Allen Hynek, seria um caso de “contato imediato de sétimo grau”, o mais alto da escala, em que são criados seres híbridos entre homens e extraterrestres, por métodos artificiais e “naturais”.
Portanto, é um dos mais importantes casos da ufologia mundial, pois além do contato ser de nível profundo, teve implicações que alteraram a vida de algumas pessoas, como o ufólogo Ademar José Gevaerd, que começou em Maringá, pesquisou esse caso e se tornou mundialmente famoso. Hoje, é editor de uma das mais respeitadas publicações sobre ufologia do mundo, a revista UFO.   
Há algo especial sobre constantes aparecimentos de Óvnis em Maringá?
        
        Poderíamos dizer que sim, uma vez que já investigamos vários casos de contato e avistamentos de óvnis na cidade. Alguns dizem que Maringá é rota de óvnis e abriga um portal dimensional.  Seria uma passagem para a quarta dimensão, cuja entrada ficaria em Maringá.




Jocelino retorna próximo ao local onde teria sido abduzido, no Jardim Alvorada, e aponta para o céu, lembrando o caso

Maria Mattos, mãe de Jocelino, na época, em O Diário, que com outros meios de comunicação deu ampla cobertura ao caso 

A casa de Jocelino virou uma espécie de laboratório, rotina que ele segue após o episódio, fabricando medicamentos naturais

Para o ufólogo Paulo César de Oliveira, o "caso Jocelino" está entre os mais importantes da ufologia mundial

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Ditadura censurou informações sobre epidemia de meningite que apavorou o Brasil nos anos 70


A desinformação ajudou a espalhar a doença, assustando o Brasil, que, em 1974, não dispunha de atendimento especializado para diagnosticar e tratar os casos nem de vacina para imunizar ao menos os moradores de São Paulo, onde houve mais vítimas
(Donizete Oliveira, texto e pesquisa)
Eu tinha oito anos. O ano era 1974. Morava na roça, em Califórnia, norte do Paraná. Numa localidade chamada Laranjal. Havia lavoura de café, feijão, arroz e milho. O pasto era grande. Meu pai tinha algumas vacas de leite. Pelo menos duas vezes por semana, eu levantava cedo e pegava uma caneca de alumínio com um pouco de cachaça no fundo e corria até o curral. Com certa rapidez, meu pai puxava a teta da vaca e a enchia de leite fresco. Misturado à cachaça dava um gosto especial.   
Em casa, a única fonte de informação era um rádio Semp, valvulado, com quatro faixas. À noite e pela manhã, meu irmão sintonizava as rádios de São Paulo. Por ali, a gente sabia o que se passava no Brasil. Televisão apenas na cidade. Foi num distrito Marilândia do Sul, chamado Leão do Norte, que eu assisti à Copa do Mundo de 1970. Numa TV Colorado em preto e branco eu vi o Brasil ser tricampeão mundial no México.
Mas uma notícia no rádio e espalhada pelos vizinhos perturbou aquela vida tranquila na roça. Começamos a ouvir uma palavra estranha, que logo ganhou lugar nos bate papos em meio às fileiras de pés de café. Era a meningite. Uma doença que provocava uma terrível dor de cabeça que levava à morte. Diziam que a dor de tão forte chegava a trincar o osso do crânio.
As crianças eram as maiores vítimas. Eu ficava apavorado. A mãe não deixava a gente tomar sol nem sair de casa, à noite, com medo do sereno, que, dizia ela, poderia desencadear aquela terrível doença. Em 1974, o Brasil viveu uma epidemia de meningite. Ao pesquisar o assunto verifico que foram dois subtipos de meningite meningocócica. Um tipo C, em 1971, e outro tipo A, em 1974.  
Dor de cabeça, febre alta, rigidez na nuca. Os dados não são precisos, mas em São Paulo, houve média de mil casos por mês e mais de 500 mortes. Os Jogos Pan-americanos que seriam realizados na capital paulista, em 1975, foram transferidos para a Cidade do México. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas era o único hospital em condições de atender os pacientes infectados. Superlotado foi obrigado a fechar as portas. Muitos ficaram sem atendimento.
Nas periferias das grandes cidades muitos morreram sem diagnóstico e tratamento. No Emílio Ribas, o cenário era assustador. Colchões espalhados pelos corredores, crianças em pias de laboratórios, profissionais de saúde ajoelhados para atendê-las no chão.
O Brasil estava sob uma ditadura militar. O governo, sem meios de resolver a situação e com justificativa de segurança nacional, censurou a divulgação de quaisquer informações sobre a epidemia. Os meios de comunicação não podiam falar do assunto. Sem informação, a maioria não sabia o que fazer frente à doença.  
 Uma vacinação em massa a fez retroceder. A aplicação era feita com injetores de ar comprimido. Parecidos com uma pistola injetava a vacina sob pressão, sem agulha. O governo comprou 60 milhões de dose de vacina da França. Em quatro dias, com ajuda do Exército, foram vacinadas 11 milhões de pessoas. Os casos diminuíram, mas a doença persistiu até 1977. Não desapareceu, mas, atualmente, é controlada com vacinação fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A vacinação com um aparelho de ar comprimido causava pavor nas crianças

Capa da revista Veja denunciava a censura que imperava sobre a doença

A ditadura militar proibiu a imprensa de divulgar informações sobre a epidemia 


sexta-feira, 3 de abril de 2020

Gripe espanhola - Desesperados, doentes procuravam atendimento nas delegacias de polícia



A falta de um sistema de saúde público fez aumentarem os mortos, cujos corpos eram abandonados nas ruas do Rio de Janeiro em meio a ratos e urubus, formando um cenário devastador  


(Donizete Oliveira, jornalista e historiador)


Minha infância se passou na roça. Meu pai, José, era contador de causos. Em dias chuvosos, eu sentava na taipa do fogão a lenha para ouvi-lo. Ele nascera em 1915, infelizmente, morreu com apenas 64 anos de um tumor no intestino. Seus causos, muitas vezes, retratavam episódios de sua difícil infância, em pleno auge da chamada gripe espanhola, que, segundo estudos, matou pelo menos 50 milhões de pessoas pelo mundo entre 1918 e 1919.
Mesmo após seu pico, ainda provocava medo. Meu pai dizia que qualquer gripe levava as pessoas ao desespero, imaginando ser a temida gripe espanhola que, no Brasil, matou em torno de 35 mil pessoas. O Rio de Janeiro, que tinha 910 mil habitantes, em 1918, foi a cidade que mais sofreu com a pandemia, registrando 15 mil mortes. Em apenas um dia houve 930 óbitos.
O desaparelhamento do setor de saúde contribuiu para a catástrofe. Mas a censura imposta pelos militares ajudou a agravar a situação, criando dificuldades para o esclarecimento público.  Houve um caos na capital carioca. Corpos espalhados pelas ruas em meio a ratos e urubus, e os moradores desesperados, sem poder trabalhar, provocavam saques. Fechamento de cafés, teatros, escolas e clubes sociais e o isolamento familiar atenuou a catástrofe.
Remédio não havia. Vacina nem pensar. A ciência não conhecia a ação dos vírus. De tudo se anunciava para curá-la. Diziam que cachaça, limão, mel e alho faziam efeito. Os ingredientes misturados eram servidos aos doentes. Há quem diga que, retirando o alho, a mistura deu origem à caipirinha. Começava como uma gripe comum e, em pouco tempo, evoluía para pneumonia grave. A pele do doente ganhava um tom azulado, chamado cianose, por causa da falta de oxigênio.
A morte era certa e rápida. Sem sistema de saúde adequado, os doentes, desesperados, procuravam ajuda nas delegacias de polícia. Uma das vítimas foi o presidente da República, Rodrigues Alves. Eleito para seu segundo mandato (1918-1922) morreu antes de assumir o cargo. O lado bom foi que as autoridades começaram a pensar na importância de se estruturar a saúde pública. Assim, nasceu o Departamento Nacional de Saúde Pública que, em 1930, no governo Getúlio Vargas, se transformou no Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Que é embrião do atual Ministério da Saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS), criado na Constituição de 1988.
O carnaval de 1918 fora cancelado por causa da temida gripe, mas, em 1919, com o arrefecimento da doença, ele voltou animado. “Não há tristeza que possa/ Suportar tanta alegria/ Quem não morreu da espanhola/ Quem dela pôde escapar/ Não dá mais tratos à bola/ Toca a rir, toca a brincar...”, dizia uma das inúmeras marchinhas cantadas nos clubes e ruas do Rio de Janeiro. Carmen Miranda emplacou o sucesso: “E o mundo não se acabou”, que dizia: “Anunciaram e garantiram/ Que o mundo ia se acabar/Por causa disso/Minha gente lá de casa/Começou a rezar”.
 A origem da gripe espanhola foi nos Estados Unidos. Navios a levaram para Europa, onde acontecia a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Soldados fracos e doentes nas trincheiras imundas facilitaram a contaminação e transmissão do vírus. Ao Brasil, a doença chegou também por via marítima. Fala-se no navio Demerara, que desembarcara passageiros no Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
O nome “gripe espanhola” não significa que a doença tivera origem na Espanha. Assim foi nominada porque a Espanha, neutra na guerra, foi o país que mais a divulgou. Daí veio o termo “gripe espanhola”. Em 2005, cientistas realizaram o sequenciamento genético do vírus responsável pela pandemia de 1918 e constataram que se tratava da Influenza A (H1N1). Uma cepa deste mesmo vírus voltou a se manifestar em 2009, quando provocou entre 150 e 575 mil mortes no mundo.  

Jornais da época retratam o caos vivido no Rio de Janeiro durante a pandemia

Panfletos distribuídos alertavam sobre a doença que matou milhares no Brasil

O precário sistema de saúde do Brasil não conseguia atender os doentes