segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

DENTISTA, FOTÓGRAFO, PILOTO...

 

Não faltam atividades para o pioneiro Laércio Nickel, que nasceu em Poços de Caldas (MG) e chegou a Maringá em 1951, ajudando a consolidar a profissão de dentista na cidade, onde vive até hoje no seu apartamento cercado de objetos antigos e ainda exercendo um dos seus hobbies: a fotografia

Texto Donizete Oliveira

Fotos Arquivo pessoal e DO

 

Uma visita ao apartamento do dentista Laércio Nickel Ferreira Lopes, no centro de Maringá, é uma volta ao passado. Aparelhos de som, máquinas de escrever, câmeras fotográficas (mais de duzentas), entre outras relíquias, que só podem ser vistas por lá. Ele vai à frente descrevendo cada objeto e se o visitante imaginar que já viu tudo, Laércio Nickel mostra outro, olha nos olhos no interlocutor e dispara: “baba”. É de babar mesmo ao descobrir detalhes de cada antiguidade.

Nascido em 14 de abril de 1928, em Poços de Caldas (MG), ele chegou a Maringá em 1951, com o amigo de infância e de profissão Newman da Silva Gomes. Laércio Nickel se formara em Alfenas, no sul de Minas Gerais. Em Maringá, ele exerceu a odontologia por mais de 50 anos e se casou com Lúcia Moreira, filha de Napoleão Moreira da Silva, tradicional político local, cujo nome batizou uma das principais praças da cidade. O casal tem os filhos: Vânia, Ênio, Sônia, Vera e Luciano, quatro netos e dois bisnetos.

Fotógrafo, apesar da idade, não tem dificuldade para explicar aberturas da lente e velocidades do obturador conforme as condições de luz. Aliás, não faltam coisas que ele faz, e bem feitas. Artesão (produz peças com miúdas pedras coladas), escritor, rádio amadorista (quando havia poucos telefones em Maringá, ajudava na comunicação), piloto de avião e colecionador de antiguidades. “Sempre fui muito dedicado àquilo que gosto de fazer”, diz. “Tenho paixão em viver e conviver com as pessoas”.

Um livro seria pouco para contar as aventuras de Laércio Nickel. Só as de piloto preencheriam algumas páginas. Por exemplo, aquela em que desligou o motor para dar um rasante. O motor não religava, e ele tentou, tentou, até fazê-lo funcionar no limite para completar a manobra. Por pouco, hein! Mas aquilo não foi nada para quem se tornou um playboy de avião, como ele mesmo diz.

Com tantos afazeres, Laércio Nickel sempre arrumou tempo para participar de clubes de serviços comunitários. Em 14 de maio de 1953 foi fundada a Associação Maringaense de Odontologia (AMO), numa reunião no antigo Aeroclube de Maringá. O dentista pioneiro participou do ato, se tornando um dos fundadores da entidade, cujo primeiro presidente foi seu amigo Newman da Silva Gomes. “Tempos difíceis, mas também de muita união e colaboração de todos, sempre pensando na melhoria das condições de trabalho dos profissionais dentistas em Maringá”, afirma.

Sua atuação social em Maringá é ampla e diversa. Entre outros feitos, fundador do Lions Clube de Maringá, na década de 50, um dos primeiros do Brasil. Ele é o único fundador vivo e o Leão (membro do clube) mais antigo do Paraná; homenageado diversas vezes pela entidade. Do Maringá Clube, fundado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), é pioneiro fundador.

Filho de Luiz do Prado Ferreira Lopes e Maria Luiza Nickel Ferreira Lopes. O pai foi coletor Federal em Alfenas e seu avô Gaspar José Ferreira Lopes prefeito daquela cidade por três mandatos e senador mineiro na primeira República. Na época, os Estados tinham câmaras legislativas, e ele exerceu o mandato em Minas Gerais.

Em 14 de abril de 2018, Laércio Nickel celebrou seus 90 anos. Para comemorar, seus parentes se reuniram em Maringá. Nada mais justo, pois é um pedaço da história mineira que se juntou ao noroeste do Paraná, onde continua fazendo história. Alvo de muitos cumprimentos, ele ouviu repetidas vezes: que esta data se prolongue por muitos anos!

Laércio no apartamento dele, que se tornou quase um museu

Com a mulher, Lúcia Moreira, cujo pai dá nome à praça em Maringá

Vitrola, que funciona por corda, no apartamento dele

Filhos e demais parentes na comemoração dos 90 anos de Laércio


 

domingo, 2 de janeiro de 2022

VIAGEM - Pampulha, um mergulho na arte


Complexo de monumentos arquitetônicos, visita obrigatória para quem vai à capital mineira, proporciona apreciar obras de renomados artistas brasileiros, exercício da fé cristã e proximidade com a natureza

Donizete Oliveira, texto e fotos*

Uma mistura de arquiteturas, museus e natureza, com muita água. A bacia hidrográfica da Lagoa da Pampulha faz parte da bacia do rio das Velhas, que desemboca no rio São Francisco. Muita coisa para ver nos seus 18 quilômetros de extensão. A Igreja São Francisco de Assis é a principal obra do conjunto, com mais traço de Oscar Niemeyer, que a projetou em 1942.

A construção da Pampulha prova a importância de um administrador público concluir os projetos de seu antecessor. O prefeito de Belo Horizonte, Octacílio Negrão de Lima, no seu primeiro mandato (1935-1938) iniciou o represamento do Ribeirão Pampulha, com objetivo de construir uma lagoa. Em 1943, a obra foi completada na gestão de seu sucessor Juscelino Kubitschek (1940-1945).

Niemeyer a projetou, mas a fundação arquitetônica da Igreja São Francisco é do engenheiro Joaquim Cardoso. Dizem que Niemeyer se inspirara nas montanhas de Minas cobrindo-a de curvas. Primeira igreja do Brasil com traços modernistas é o principal cartão-postal da capital mineira. Quem a visita deve se atentar aos detalhes.

Por exemplo, o altar principal,  obra de Cândido Portinari. Dedicado a São Francisco de Assis, um cachorro no lugar do lobo chocou autoridades eclesiásticas, deixando-a 14 anos isolada, sem celebrações religiosas. Os 14 painéis da via-sacra e os externos completam o trabalho de Portinari. Paulo Werneck assina os painéis figurativos e abstratos. Alfredo Ceschiatti esculpiu os de baixo-relevo em bronze do batistério; Burle Marx projetou os jardins.

Mas a visita continua. A Pampulha é uma obra de arte. Cercada por casarões antigos, vale a pena esticar o passeio ao Cassino, que virou museu de arte com um acervo de 900 obras e à Casa do Baile, cartão-postal de BH, com fachada barroca.

Também não podem ficar de fora o Iate Golfe Clube, com obras de Portinari e Burle Marx e a Casa Kubitschek, construída para o então prefeito JK passar os fins de semana, virou museu.

O aposentado Pedro Alves, um simpático senhor de 72 anos, que fica na Igreja de São Francisco, é uma espécie de guia do local. Ele faz questão de mostrar e explicar os detalhes aos visitantes. “Faço com prazer, revelando as belezas e os valores deste local, que é uma joia de Belo Horizonte e do Brasil”, diz.

*O jornalista viajou a Belo Horizonte.

Igreja de São Francisco de Assis, arte de Oscar Niemeyer


Visão parcial do encantador lago da Pampulha

Esculturas de JK, Niemeyer, Portinari e Burle Marx