Antiga venda de secos e molhados, cujo dono confia nos fregueses e mantém a tradição do fiado, vira atração de distrito de Faxinal, no Vale do Ivaí
Texto e fotos Donizete Oliveira
O
professor Donha, de Mandaguari, e o engenheiro agrônomo João Flávio, de
Marialva, vez ou outra saem por aí a visitar lugares que muitos só conhecem
pelo nome. Um distrito, uma igreja quase esquecida pelo tempo ou uma venda.
Daquelas de balcões de madeira, que vendem de tudo. De açúcar, sal, café em pó,
feijão e arroz a um remedinho corriqueiro para uma repentina dor de cabeça.
Algumas
vezes, eu embarco junto. Conhecer mais um lugar escondido nas entranhas do
tempo. Da última vez, fizemos um giro pelo Vale do Ivaí. Passamos por
Apucarana, Rio Bom, pelo seu distrito de Nova Amoreira e chegamos ao seu outro
distrito, Santo Antônio do Palmital. De lá seguimos rumo a Faxinalzinho, ou
Nova Altamira, seu nome atual. Mas o pessoal parece gostar do nome antigo.
Distrito
de Faxinal, a 120 quilômetros de Maringá e a 90 de Apucarana. A rua principal.
Algumas casas. Uma antiga venda. De portas enormes. Balcão de madeira. A única
por ali. O movimento não é grande, mas constante. Uma mulher compra uma caixa
de sabão em pó. Outra um remédio para dor de cabeça. Um sujeito chega a cavalo
e pede um litro de cachaça. Para beber em casa. “A gente vendia bebida
alcoólica no balcão, mas paramos porque começou a dar problemas”, diz Roberson
Moreira Rodrigues, 45.
Mas
a regra não é tão rígida. O Donha pediu uma cerveja de latinha. O João Flávio
acompanhou. Eu também. Consumimos ali. Afinal, somos visitantes. Ele abriu uma
exceção. A venda era do sogro dele, que morreu há 17 anos. Desde então,
Rodrigues a assumiu. “O movimento não é grande, mas dá para manter (o negócio)”,
conta. A 15 quilômetros de Faxinal, é a única opção de comércio por lá.
O fiado funciona. Rodrigues marca num
caderninho. O freguês paga no dia combinado. A maioria trabalha na roça. Uns
recebem por semana; outros, por mês. “De um modo geral, a gente vende na
confiança e funciona”, diz. “Talvez porque eu conheça todo mundo, a maioria paga
certinho”.
A
venda dele é conhecida, inclusive, por pessoas de outras cidades que vão
visitar as cachoeiras de Faxinal. Um turismo em alta por lá, pois o município
tem dezenas delas espalhadas pela zona rural. “Nos fins de semana, eles vêm e
param aqui para fazer lanche ou comprar alguma coisa”, afirma Rodrigues,
terminando de arrumar uma compra para mais um freguês levar.
Um
senhor falante. De cabelos lisos, camisa branca, calça jeans e botas azuis. Uniforme
de trabalho. É empregado numa lavoura de tomate. Pede se podemos levá-lo com a
compra até a casa dele. O motorista e dono do carro João Flávio concorda. Colocamos
as mercadorias no bagageiro e fomos. Ele fala rápido. Embolado. Difícil
entender. Nem mesmo a pronúncia do nome.
Entendi apenas o que ele insistia em dizer: “sou filho do Rubens”.
A
uns três quilômetros dali chegamos à casa dele. Ao lado mora um casal que
também trabalha na lavoura de tomate. A principal atividade rural por ali. Marli
e Antônio plantam, pulverizam e colhem tomates. O senhor de fala ligeira e
confusa, que continua a dizer que é filho do Rubens, acrescenta que tem
internet em casa, se chama Mariano.
Rubens
é patrão dele. “Às vezes, ele bebe umas cervejinhas a mais e exagera na fala,
mas é gente boa”, diz Marli. Despedimos deles e seguimos pela estrada de terra.
A beleza da paisagem distrai e ameniza um pouco o cheiro de inseticidas usados
na plantação de tomate. Mauá da Serra, Marilândia do Sul, Leão do Norte,
Califórnia, Apucarana, Cambira, Jandaia do Sul, Mandaguari, Marialva, Maringá.
Outro dia tem mais...
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Reberson continuou o trabalho do sogro na antiga venda no distrito de Faxinalzinho, no Vale do Ivaí |
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Ao chegar em casa, de carona, com as compras que trouxe da venda, a cachorra recepciona Mariano |
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